domingo, 25 de abril de 2010

Falhas Geológicas - Lineamento Pernambuco/Lineamento Patos

Tremores // A terra continua a pregar peças

Terremotos // Mais duas cidades, Cupira e Belém de Maria, passaram a registrar abalos. Para estudiosos, são resultados de um novo ciclo

Juliana Colares




Em Pernambuco, os terremotos parecem estar mais frequentes nos últimos meses. E estão. O Nordeste concentra o maior número de terremotos no Brasil. Há quem diga que dois terços deles ocorrem nesta região, marcada por ciclos. Uns de maior atividade sísmica. Outros de menor. Neste momento Pernambuco está vivendo um desses ciclos de maior ocorrência de terremotos, segundo o coordenador do Laboratório Sismológico da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), que monitora e estuda os terremotos no Nordeste, Joaquim Ferreira.

"Estamos na época em que a atividade sísmica está crescendo. Com o tempo, ela diminui. Foi o que a gente observou em várias outras regiões, como João Câmara, no Rio Grande do Norte, e Sobral, no Ceará", disse o vice coordenador do Laboratório Sismológico da UFRN, Aderson Nascimento. Só este ano, os moradores dos municipios de Alagoinha e Cupira, no Agreste, e Belém de Maria, na Zona da Mata Sul, passaram a sentir a terra sacudir sob seuspés. E de repente. As duas últimas, há uma semana.

E quando se fala em tremor de terra por aqui, é impossível não mencionar uma falha geológica que tem entre 600 Km e 700 Km de extensão e corta todo o estado, do Recife a Ouricuri. É o Lineamento Pernambuco. Mas ele está longe de ser a explicação para tudo. O lineamento se formou entre 500 milhões e 550 milhões de anos atrás, antes mesmo da separação dos continentes sulamericano e africano - essa falha, por sinal, continua na África. Segundo o professor de geologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Joaquim Mota, a abertura dos continentes na altura de Pernambuco ocorreu há cerca de 100 milhões de anos.

Falhas extensas como essa são zonas de fraqueza e tendem a se movimentar, causando abalos sísmicos. Até aí, tudo bem. Mas porque, então, é rara a ocorrência de atividades sísmicas na Paraíba se nesse estado também há uma grande falha geológica, chamada de Lineamento Patos? Para essa pergunta ainda não há respostas definitivas.

Para o chefe do Observatório Sismológico da Universidade de Brasília (UNB), George França, toda atividade sísmica registrada em Pernambuco tem ligação com o lineamento que leva seu nome ou com suas ramificações (falhas geológicas menores). Quanto à diferença de sismicidade entre os estados, ele defende a tese de que Pernambuco deve ter um sistema geológico diferente da Paraíba, com uma região de fragilidade maior na região do Agreste, nas proximidades de Caruaru, do que na área do Lineamento de Patos. Uma coisa é certa. Não há unanimidade. Nem certezas.

Nem a esse respeito nem sobre uma outra teoria, que especula que os tremores sentidos recentemente em Pernambuco, na Bahia, na divisa de Santa Catarina com o Rio Grande do Sul e em outras partes do país encontrem uma razão global, não regional. Segundo essa ideia, todo o planeta está conectado e, portanto, grandes terremotos em outros países, como o do Haiti e do Chile, poderiam gerar aumento de tensão em alguns pontos e alívio em outros, provocando uma mudança na direção dos abalos. Hipótese, no entanto, que carece de fundamentação científica.

"Existem um ou dois exemplos na literatura que comprovam que um terremoto engatilhou outro. Esse aumento da atividade sísmica no Nordeste é fruto de um ciclo natural. Mundialmente, a atividade sísmica continua exatamente a mesma. Não existe nenhum trabalho científico que demonstre que sismos do mundo todo estão engatilhando abalos em outros locais", ponderou Aderson. "Não há uma relação direta de causa e efeito com os terremotos ocorridos no mundo", reforçou Joaquim Ferreira. Como terremotos são imprevisíveis, resta aos cientistas pesquisar mais esse tipo de fenômeno, ao poder público repensar o tipo de moradia em áreas onda há abalos e à população aprender a se proteger e a conviver com uma realidade que já se imaginou distante do Brasil: a ocorrência de terremotos.

Mas essa convivência não está sendo fácil, principalmente nas novas cidades do interior pernambucano que entraram nesse lista (antes havia Caruaru e São Caetano). Só de lembrar dos primeiros dias de março, a aposentada Águida Maria da Conceição ainda sente o coração bater mais forte. Tenta mudar de assunto. Fugir das lembranças dos dias em que deixou de confiar no alicerce de sua vida e fonte de seu sustento. Aos seus olhos, a terra firme sob seus pés já não parecia mais tão firme. Quando o chão tremia e trovões pareciam surgir das profundezas do subsolo, Águida se sentia sem amparo. Lhe restava rezar e, sob o céu estrelado que as grandes cidades desconhecem, esperar que tudo voltasse a ser como era antes. O medo de Águida, que não sabe quantos anos tem mas seu neto chuta que sejam 72, ecoa por outras pequenas cidades do interior pernambucano, onde a terra, nos últimos tempos, vez por outra prega peças. Assusta.
Fonte: http://www.diariodepernambuco.com.br/

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