Tremores // A terra continua a pregar peças
Terremotos // Mais duas cidades, Cupira e Belém de Maria, passaram a  registrar abalos. Para estudiosos, são resultados de um novo ciclo
Juliana Colares
Em Pernambuco, os terremotos parecem estar mais frequentes nos últimos  meses. E estão. O Nordeste concentra o maior número de terremotos no  Brasil. Há quem diga que dois terços deles ocorrem nesta região, marcada  por ciclos. Uns de maior atividade sísmica. Outros de menor. Neste  momento Pernambuco está vivendo um desses ciclos de maior ocorrência de  terremotos, segundo o coordenador do Laboratório Sismológico da  Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), que monitora e  estuda os terremotos no Nordeste, Joaquim Ferreira.
"Estamos na  época em que a atividade sísmica está crescendo. Com o tempo, ela  diminui. Foi o que a gente observou em várias outras regiões, como João  Câmara, no Rio Grande do Norte, e Sobral, no Ceará", disse o vice  coordenador do Laboratório Sismológico da UFRN, Aderson Nascimento. Só  este ano, os moradores dos municipios de Alagoinha e Cupira, no Agreste,  e Belém de Maria, na Zona da Mata Sul, passaram a sentir a terra  sacudir sob seuspés. E de repente. As duas últimas, há uma semana. 
E  quando se fala em tremor de terra por aqui, é impossível não mencionar  uma falha geológica que tem entre 600 Km e 700 Km de extensão e corta  todo o estado, do Recife a Ouricuri. É o Lineamento Pernambuco. Mas ele  está longe de ser a explicação para tudo. O lineamento se formou entre  500 milhões e 550 milhões de anos atrás, antes mesmo da separação dos  continentes sulamericano e africano - essa falha, por sinal, continua na  África. Segundo o professor de geologia da Universidade Federal de  Pernambuco (UFPE) Joaquim Mota, a abertura dos continentes na altura de  Pernambuco ocorreu há cerca de 100 milhões de anos. 
Falhas  extensas como essa são zonas de fraqueza e tendem a se movimentar,  causando abalos sísmicos. Até aí, tudo bem. Mas porque, então, é rara a  ocorrência de atividades sísmicas na Paraíba se nesse estado também há  uma grande falha geológica, chamada de Lineamento Patos? Para essa  pergunta ainda não há respostas definitivas. 
Para o chefe do  Observatório Sismológico da Universidade de Brasília (UNB), George  França, toda atividade sísmica registrada em Pernambuco tem ligação com o  lineamento que leva seu nome ou com suas ramificações (falhas  geológicas menores). Quanto à diferença de sismicidade entre os estados,  ele defende a tese de que Pernambuco deve ter um sistema geológico  diferente da Paraíba, com uma região de fragilidade maior na região do  Agreste, nas proximidades de Caruaru, do que na área do Lineamento de  Patos. Uma coisa é certa. Não há unanimidade. Nem certezas.
Nem a  esse respeito nem sobre uma outra teoria, que especula que os tremores  sentidos recentemente em Pernambuco, na Bahia, na divisa de Santa  Catarina com o Rio Grande do Sul e em outras partes do país encontrem  uma razão global, não regional. Segundo essa ideia, todo o planeta está  conectado e, portanto, grandes terremotos em outros países, como o do  Haiti e do Chile, poderiam gerar aumento de tensão em alguns pontos e  alívio em outros, provocando uma mudança na direção dos abalos.  Hipótese, no entanto, que carece de fundamentação científica. 
"Existem  um ou dois exemplos na literatura que comprovam que um terremoto  engatilhou outro. Esse aumento da atividade sísmica no Nordeste é fruto  de um ciclo natural. Mundialmente, a atividade sísmica continua  exatamente a mesma. Não existe nenhum trabalho científico que demonstre  que sismos do mundo todo estão engatilhando abalos em outros locais",  ponderou Aderson. "Não há uma relação direta de causa e efeito com os  terremotos ocorridos no mundo", reforçou Joaquim Ferreira. Como  terremotos são imprevisíveis, resta aos cientistas pesquisar mais esse  tipo de fenômeno, ao poder público repensar o tipo de moradia em áreas  onda há abalos e à população aprender a se proteger e a conviver com uma  realidade que já se imaginou distante do Brasil: a ocorrência de  terremotos. 
Mas essa convivência não está sendo fácil,  principalmente nas novas cidades do interior pernambucano que entraram  nesse lista (antes havia Caruaru e São Caetano). Só de lembrar dos  primeiros dias de março, a aposentada Águida Maria da Conceição ainda  sente o coração bater mais forte. Tenta mudar de assunto. Fugir das  lembranças dos dias em que deixou de confiar no alicerce de sua vida e  fonte de seu sustento. Aos seus olhos, a terra firme sob seus pés já não  parecia mais tão firme. Quando o chão tremia e trovões pareciam surgir  das profundezas do subsolo, Águida se sentia sem amparo. Lhe restava  rezar e, sob o céu estrelado que as grandes cidades desconhecem, esperar  que tudo voltasse a ser como era antes. O medo de Águida, que não sabe  quantos anos tem mas seu neto chuta que sejam 72, ecoa por outras  pequenas cidades do interior pernambucano, onde a terra, nos últimos  tempos, vez por outra prega peças. Assusta.
Fonte: http://www.diariodepernambuco.com.br/
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