quinta-feira, 27 de maio de 2010

Vaccarezza e as derrotas do governo na Câmara


Antônio Augusto de Queiroz *
O deputado Cândido Vaccarezza (PT/SP) teve uma ascensão meteórica e inusitada no Congresso Nacional. Estreou na Câmara com desenvoltura de veterano. Apressou-se em integrar a coordenação da campanha de Arlindo Chinaglia à presidência da Câmara em 2007, foi líder do PT em 2009, e assumiu a liderança do Governo em 2010. É visto como potencial candidato à presidência da Câmara ou a ministro numa eventual gestão de Dilma Rousseff.

Com a experiência de líder do PT na Assembléia Legislativa de São Paulo, aproveitou o vácuo deixado com a saída de cena de algumas das estrelas do partido e da bancada – que foram alvejadas pela denúncia de envolvimento no chamado mensalão – e o bom relacionamento que tem com a imprensa para projetar seu nome como eficiente operador político.  Com isso, credenciou-se perante o núcleo político do governo no período pós-José Dirceu e João Paulo Cunha, os dois grandes articuladores do primeiro mandato de Lula.

Assim, conquistou duas posições importantes na interlocução política: o fácil acesso ao presidente da República e um assento na coordenação de campanha da candidata Dilma Rousseff, das quais se jacta com freqüência. Com tais facilidades de contato, conduz a liderança do governo sem maiores preocupações com as opiniões das áreas técnicas do Poder Executivo e dos demais líderes da base.

Quando é indagado se consultou os especialistas do Poder Executivo (que seus antecessores habitualmente consultavam), responde que fala direto com o presidente da República ou com os ministros, não tendo sentido se reportar aos escalões inferiores do governo. Nem José Dirceu, que foi o ministro mais poderoso de Lula, deixou de ouvir e considerar a opinião dos técnicos que ocupam cargos de alta direção no Poder Executivo.

Esse novo modo de liderar, inusitado na experiência de líder do governo, também se reflete na relação com os demais líderes da base, e possui duplo efeito negativo. O primeiro é de coordenação, ao permitir a aprovação de matéria em desacordo com as diretrizes governamentais. O segundo é político, já que os demais lideres da base, habituados ao diálogo e à consulta, não aceitam as imposições do novo líder Vaccarezza.

Além dos aspectos práticos, operacionais, há problemas de sensibilidade política na relação com os demais líderes da base, especialmente com o PMDB. O partido, que espera presidir a Câmara com seu atual líder (Henrique Eduardo Alves, do RN) em 2011, teme que Vacarezza, visto como afoito e voraz por poder, resolva disputar a presidência da Câmara na primeira sessão legislativa da próxima legislatura, quebrando o acordo entre o PT e PMDB.

O PT, percebendo o quase descontrole da base, escalou o ex-presidente da Câmara Arlindo Chinaglia para conduzir articulações, negociações e até encaminhamento de votações em plenário, afastando provisoriamente José Genoino do microfone do plenário. A tática, pelo menos na primeira semana em que foi colocada em prática, funcionou.

Chinaglia, com a experiência de líder do PT, líder do governo e de ex-presidente da Câmara, sabe da importância da área técnica do Governo, goza de credibilidade perante a Casa, e pode evitar maiores prejuízos para o PT e para o governo nas próximas votações.

A relação com os partidos da base se faz com diálogo, negociação e respeito aos líderes, sob pena de desagregação e derrota do governo, como tem ocorrido nos últimos meses.

A coordenação política, pelo menos no âmbito do Congresso, parece à deriva. O ministro Padilha, que se divide entre a relação do governo com o Congresso e a defesa do governo e da candidata Dilma, não poderá fazer muito nas negociações internas do Parlamento. Se não houver consulta às áreas técnicas nem diálogo e negociação com os demais líderes da base, o descontrole e as derrotas serão inevitáveis.

* Jornalista, analista político e diretor de documentação do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap).
Fonte: Congresso em Foco

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