Nas revistas: Inglaterra, o plano B da FIFA para 2014
Veja
O plano B da FIFA
Em oitenta anos de Copa do Mundo, dezesseis países já sediaram o evento. Apenas quatro experimentaram a oportunidade de fazê-lo de novo. Em outubro de 2007, o Brasil foi escolhido como o quinto país a ter o privilégio de receber pela segunda vez o maior espetáculo esportivo do mundo. Em dois anos e meio de preparação, porém, o que deveria ser motivo de euforia aos poucos vai se transformando numa fonte crescente de preocupação.
A quatro anos do início do campeonato, a única realização concreta até hoje foi a escolha das doze cidades-sede – e nem isso ainda está devidamente definido. As obras de infraestrutura não começaram e os estádios só existem nas maquetes. Pelo cronograma imposto pela Fifa, as arenas já deveriam estar sendo erguidas desde janeiro passado. Como nenhum tijolo foi movido, prorrogou-se o prazo para março. Mas, de novo, nada aconteceu.
O derradeiro "limite" – também não levado a sério pelos organizadores – termina nesta semana. A Fifa, preocupada, enviou um alerta ao governo sobre a existência de um plano de contingência. Se o Brasil continuar descumprindo as metas e os prazos estabelecidos pela entidade, a Inglaterra já estará pronta e preparada para receber a Copa de 2014.
O risco de o Brasil pagar o maior mico da história dos mundiais – até hoje nunca houve um caso de descredenciamento às vésperas da competição – é muito baixo, mas os alertas emitidos devem ser levados em conta. A azáfama da Copa da África do Sul corre o risco de se repetir no Brasil. A advertência da Fifa funciona como estratégia de pressão.
A mesma tática foi utilizada para acelerar os preparativos na África do Sul em 2008, dois anos antes do primeiro jogo, quando também foram constatados atrasos no cronograma de obras e, naquela ocasião, se sugeria a Alemanha como alternativa. Hoje, a África está pronta para realizar o Mundial. No caso do Brasil, a revelação do plano B tem o objetivo imediato de tentar engajar na marra as autoridades envolvidas.
Com uma economia cinco vezes maior que a do país africano e sem as mesmas dificuldades de captar investimento, o Brasil está muito atrasado. Em 2006, com dois anos de preparação, os sul-africanos já haviam começado a construção de dois estádios, inclusive o Soccer City, o palco da abertura e da final do campeonato. No Brasil, para não dizer que tudo se encontra no marco zero, Mato Grosso é o exemplo de agilidade. Já começou a erguer os tapumes do canteiro de obras do futuro estádio.
O problema é que a Copa do Mundo não sairá do papel sem dinheiro público, segundo já admitiu a organização, o que necessariamente envolve políticos e a velha politicagem – a vilã do atraso do cronograma. Dos doze governadores que receberão as seleções em 2014, cinco estão disputando a reeleição, seis se esforçam para eleger seu sucessor e ainda há o caos político no Distrito Federal, uma das subsedes, que está sob a ameaça de intervenção federal.
"Os governadores só vão encarar a Copa como problema deles depois da eleição", disse a VEJA um técnico ligado ao comitê organizador do Mundial. E acrescentou: "Por enquanto, a Copa nada mais é do que uma peça importante de promoção dos políticos junto ao eleitorado, muito útil para angariar a simpatia financeira de empreiteiras interessadas na construção dos estádios e nas obras de infraestrutura".
Pesa também o terrível costume dos governantes de não iniciar uma obra que possa ser capitalizada por um adversário. Os organizadores, por tudo isso, desconfiam que a preparação para o Mundial começará apenas a partir de janeiro do ano que vem. "Não existe plano B nenhum. A Copa será no Brasil", garante Rodrigo Paiva, assessor da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e membro do comitê organizador.
Sem nenhum medo de ser feliz
A agência Matisse é um dos mais intrigantes casos de sucesso da propaganda brasileira. Em 2003, com a chegada de Lula ao governo, a empresa deixou de ser uma nanica regional para tornar-se uma potência. Comandada pelo publicitário Paulo de Tarso Santos, marqueteiro de Lula em 1989 e 1994, ela entrou para o time das grandes ao vencer a licitação para administrar a milionária verba publicitária da Presidência da República. Seu sucesso, a partir daí, foi estrondoso.
Nos últimos sete anos, a Matisse conseguiu a proeza de se manter como a única agência a prestar serviços ininterruptos à Secretaria de Comunicação do governo. Há dois meses, porém, essa escalada de sucesso sofreu um revés. Sem explicação, Paulo de Tarso Santos anunciou que estava abandonando a empresa para se dedicar a outros negócios.
O que se descobre agora é que o publicitário, na verdade, deixou a Matisse por suspeita de desviar recursos públicos. Sua agência recebia as verbas do governo para pagar anúncios de campanhas oficiais, mas o dinheiro não chegava ao destino – pequenas emissoras de rádio e jornais do interior. O que aconteceu? Por enquanto o máximo que se pode dizer é que alguém embolsou os valores, e o publicitário, como sócio da empresa, foi responsabilizado por isso.
A saída de Paulo de Tarso da Matisse tem relação direta com as irregularidades. No início do ano, a Secretaria de Comunicação (Secom), chefiada pelo ministro Franklin Martins, tomou conhecimento de que um grupo de pequenas empresas de comunicação reclamava ter sido vítima de um calote de 5 milhões de reais por parte do governo federal.
Os casos não se encaixavam nos tradicionais atrasos provocados pela burocracia e, curiosamente, envolviam sempre a mesma agência, a Matisse. Dívidas que se arrastavam havia mais de cinco anos e que começaram a criar dificuldades para o próprio governo. Além do constrangimento, algumas emissoras passaram a recusar publicidade oficial. A Secom tentou contornar o problema, notificando formalmente a Matisse para que quitasse as dívidas. Em outra frente, também mudou seu sistema de pagamento. Antes, o órgão repassava dinheiro às agências depois que elas comprovavam a exibição da propaganda. Agora, além de comprovar a exibição, as agências precisam atestar o pagamento aos veículos.
A mudança de procedimento ocorreu após duas reuniões entre o ex-marqueteiro de Lula Paulo de Tarso e executivos da Presidência da República, no início do ano. Numa delas, inclusive, os ânimos se exaltaram.
Ao ser questionado sobre a falta de pagamentos, o publicitário teria insinuado que aquilo era um procedimento normal. Exaltado, o secretário executivo da Secom, Ottoni Fernandes Junior, teria convocado seguranças para expulsar Paulo de Tarso de sua sala. A discussão foi narrada a VEJA por uma pessoa muito próxima aos dois personagens – que não querem falar sobre o assunto.
"Não vou comentar a suposta expulsão", disse Ottoni a VEJA por meio de sua assessoria. Paulo de Tarso admite que as reuniões foram muito duras, mas diz que a versão do que exatamente ocorreu cabe a Ottoni. "A versão sempre deve ser do cliente", afirmou a VEJA o ex-marqueteiro de Lula. "Tínhamos um passivo de 1,5 milhão de reais com os fornecedores. O escalonamento é uma coisa normal. Mas a Secom também devia para a gente", justifica.
Freud, o agente 0013
Freud Godoy é um homem de múltiplas habilidades – e de inúmeras conexões dentro do PT. Ele já foi segurança particular de Lula durante campanhas eleitorais, "assessor especial" da Presidência da República e prestador de serviços da Bancoop, Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo, acusada de dar um golpe de 100 milhões de reais em seus clientes.
Sua carreira sofreu um abalo duro em 2006, quando ele se viu enredado no escândalo dos aloprados. Rememorando: às vésperas da última eleição presidencial, um grupo de petistas foi flagrado com uma mala cheia de dinheiro, tentando comprar um dossiê fajuto montado para atacar políticos do PSDB.
Os envolvidos, pegos com a boca na botija, disseram que estavam a serviço de um tal de "Froude" ou "Freud". Ele nunca admitiu participação na operação, mas, por via das dúvidas, pediu demissão da Presidência. Submerso desde então, acaba de voltar à ativa, repaginado. Decidiu fazer dinheiro no mundo da espionagem.
Mas – atenção – ele jura que não escarafuncha a vida de ninguém. Freud Godoy explica que agora ganha a vida protegendo seus clientes da bisbilhotice alheia. É o que se chama, no jargão do ramo, de contraespionagem.
Há duas semanas, ele tornou pública sua nova atividade. Orgulhoso, com uma gravata digna de presidente da República e se apresentando como CEO, pilotava pessoalmente o estande de sua empresa, a Caso Sistemas de Segurança, em uma feira no Expo Center Norte, tradicional local de exposições na capital paulista.
Animado, explicava aos potenciais clientes os serviços que oferece. Quer saber se seu telefone foi grampeado? Está desconfiado de uma escuta clandestina no sofá, dentro de um vaso ou atrás de uma tomada? Acha que esconderam um rastreador de GPS no seu carro? Chame o Freud! A equipe dele faz uma varredura completa contra as artimanhas dos espiões por módicos 100 reais por metro quadrado inspecionado.
O ideal, segundo o aloprado, é fazer o serviço à noite ou no fim de semana, quando as empresas estão vazias. As traquitanas dos agentes da Caso – maletas antigrampo, aparelhos portáteis de raios X, detectores metálicos – são de tecnologia alemã e israelense. Segundo Freud, custaram 500 000 reais.
Carta Capital
Parece-me ouvir a gargalhada borbulhante do general Golbery do Couto e Silva enquanto o Supremo Tribunal Federal nega a revisão da Lei da Anistia pedida pela OAB. Golbery é personagem a merecer estudos profundos na qualidade, em primeiro lugar, de imbatível conhecedor da alma dos privilegiados do Brasil. Sem dar-se conta disso, eles se portam conforme o figurino traçado por quem já foi tido como o Merlin do Planalto.
Não cabe, obviamente, enxergar em Castello Branco ou em Ernesto Geisel reencarnações do rei Artur. Não passaram de títeres nas mãos do seu chefe da Casa Civil. João Figueiredo lá pelas tantas, quando explodiram as bombas do Riocentro, tentou livrar-se do titereiro e conseguiu. Nem por isso escapou ao roteiro preestabelecido por Golbery. Com a inestimável contribuição de um professor gaúcho, Leitão de Abreu, que falava alemão mas não conhecia a alma dos privilegiados.
Protagonista brasileiro da guerra fria, atento ao descompasso entre as sístoles e diástoles da política nativa, Golbery criou a ideologia do golpe de 1964 e, a partir de dez anos depois, ditou as regras da distensão que virou abertura. Fatais a derrota das Diretas Já, a enésima consagração da conciliação das elites na Aliança Democrática e a eleição indireta de janeiro de 1985. Disputada por quem Golbery previamente escolhera, Tancredo Neves e Paulo Maluf.
Chamaram o que se seguiu de redemocratização. Da mesma forma, teimaram em batizar o golpe de revolução. Palavras sem significado, cultivadas por uma elite responsável pelo atraso do Brasil, a despeito das extraordinárias vantagens que a natureza conferiu ao País. Hoje, Golbery se riria com o aval que o Supremo dá à Lei da Anistia por ele excogitada e finalmente imposta pela ditadura.
O voto do STF agrada aos candidatos Dilma, Serra e Marina. Não há um, um somente, que se queixe. E não se exclua que os ministros do Supremo tenham votado pela manutenção – belas e inesquecíveis exceções Carlos Ayres Brito e Ricardo Lewandowski – na certeza de contribuir para a paz geral da nação em um ano eleitoral. O que move os senhores da corte, da política, da mídia? O inesgotável medo do retrocesso ou a inesgotável vocação conciliatória?
Impactos relacionados à soja minam apelo do biodiesel
A partir de janeiro deste ano, cada litro de diesel vendido nos postos passou a conter 5% de biodiesel. O consumo de fontes energéticas menos poluentes que os combustíveis fósseis pode ser considerado um bom sinal diante dos riscos relacionados às mudanças climáticas, mas os impactos socioambientais vinculados ao biodiesel também são capazes de surpreender quem imagina ter a culpa reduzida toda vez que enche o tanque do veículo.
De todo o volume de biodiesel produzido no país, cerca de 80% são extraídos a partir da soja. Das 48 usinas de processamento dedicadas especificamente à produção do agrocombustível atualmente em funcionamento, 42 utilizam a soja como matéria-prima.
Quando lançado em 2004, o Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel (PNPB) prometia inclusão social de pequenos produtores rurais combinada com a disseminação de fontes alternativas (como a mamona). Mas desde que o país vem produzindo biodiesel em maior escala, o domínio da soja nunca chegou a ser ameaçado.
Além disso, o direcionamento do grão para o setor de geração de energia é cada vez maior. Em 2008, foram consumidos 3,5 milhões de toneladas de soja para a produção de biodiesel, o que representava cerca de 5,8% de toda a safra da época.
Em 2010, 8,3 milhões de toneladas devem virar fonte de energia, quantidade que equivale a 12,3% do total produzido. Ou seja, em apenas dois anos, a proporção de soja para biodiesel mais do que dobrou.
"Mais do que o fracasso do programa oficial de inclusão de pequenos produtores de mamona e dendê na cadeia dos agrocombustíveis renováveis", revela o relatório "Os impactos da soja na safra 2009/10", produzido pelo Centro de Monitoramento de Agrocombustíveis (CMA) da Repórter Brasil, dados como esses indicam "que todos os problemas ambientais, sociais e trabalhistas ligados ao atual modelo de expansão da sojicultura colocam-se como obstáculos aos discursos empresariais e governamentais de que os agrocombustíveis brasileiros são paradigma da chamada ´energia limpa´".
Fonte: http://congressoemfoco.com.br/
O plano B da FIFA
Em oitenta anos de Copa do Mundo, dezesseis países já sediaram o evento. Apenas quatro experimentaram a oportunidade de fazê-lo de novo. Em outubro de 2007, o Brasil foi escolhido como o quinto país a ter o privilégio de receber pela segunda vez o maior espetáculo esportivo do mundo. Em dois anos e meio de preparação, porém, o que deveria ser motivo de euforia aos poucos vai se transformando numa fonte crescente de preocupação.
A quatro anos do início do campeonato, a única realização concreta até hoje foi a escolha das doze cidades-sede – e nem isso ainda está devidamente definido. As obras de infraestrutura não começaram e os estádios só existem nas maquetes. Pelo cronograma imposto pela Fifa, as arenas já deveriam estar sendo erguidas desde janeiro passado. Como nenhum tijolo foi movido, prorrogou-se o prazo para março. Mas, de novo, nada aconteceu.
O derradeiro "limite" – também não levado a sério pelos organizadores – termina nesta semana. A Fifa, preocupada, enviou um alerta ao governo sobre a existência de um plano de contingência. Se o Brasil continuar descumprindo as metas e os prazos estabelecidos pela entidade, a Inglaterra já estará pronta e preparada para receber a Copa de 2014.
O risco de o Brasil pagar o maior mico da história dos mundiais – até hoje nunca houve um caso de descredenciamento às vésperas da competição – é muito baixo, mas os alertas emitidos devem ser levados em conta. A azáfama da Copa da África do Sul corre o risco de se repetir no Brasil. A advertência da Fifa funciona como estratégia de pressão.
A mesma tática foi utilizada para acelerar os preparativos na África do Sul em 2008, dois anos antes do primeiro jogo, quando também foram constatados atrasos no cronograma de obras e, naquela ocasião, se sugeria a Alemanha como alternativa. Hoje, a África está pronta para realizar o Mundial. No caso do Brasil, a revelação do plano B tem o objetivo imediato de tentar engajar na marra as autoridades envolvidas.
Com uma economia cinco vezes maior que a do país africano e sem as mesmas dificuldades de captar investimento, o Brasil está muito atrasado. Em 2006, com dois anos de preparação, os sul-africanos já haviam começado a construção de dois estádios, inclusive o Soccer City, o palco da abertura e da final do campeonato. No Brasil, para não dizer que tudo se encontra no marco zero, Mato Grosso é o exemplo de agilidade. Já começou a erguer os tapumes do canteiro de obras do futuro estádio.
O problema é que a Copa do Mundo não sairá do papel sem dinheiro público, segundo já admitiu a organização, o que necessariamente envolve políticos e a velha politicagem – a vilã do atraso do cronograma. Dos doze governadores que receberão as seleções em 2014, cinco estão disputando a reeleição, seis se esforçam para eleger seu sucessor e ainda há o caos político no Distrito Federal, uma das subsedes, que está sob a ameaça de intervenção federal.
"Os governadores só vão encarar a Copa como problema deles depois da eleição", disse a VEJA um técnico ligado ao comitê organizador do Mundial. E acrescentou: "Por enquanto, a Copa nada mais é do que uma peça importante de promoção dos políticos junto ao eleitorado, muito útil para angariar a simpatia financeira de empreiteiras interessadas na construção dos estádios e nas obras de infraestrutura".
Pesa também o terrível costume dos governantes de não iniciar uma obra que possa ser capitalizada por um adversário. Os organizadores, por tudo isso, desconfiam que a preparação para o Mundial começará apenas a partir de janeiro do ano que vem. "Não existe plano B nenhum. A Copa será no Brasil", garante Rodrigo Paiva, assessor da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e membro do comitê organizador.
Sem nenhum medo de ser feliz
A agência Matisse é um dos mais intrigantes casos de sucesso da propaganda brasileira. Em 2003, com a chegada de Lula ao governo, a empresa deixou de ser uma nanica regional para tornar-se uma potência. Comandada pelo publicitário Paulo de Tarso Santos, marqueteiro de Lula em 1989 e 1994, ela entrou para o time das grandes ao vencer a licitação para administrar a milionária verba publicitária da Presidência da República. Seu sucesso, a partir daí, foi estrondoso.
Nos últimos sete anos, a Matisse conseguiu a proeza de se manter como a única agência a prestar serviços ininterruptos à Secretaria de Comunicação do governo. Há dois meses, porém, essa escalada de sucesso sofreu um revés. Sem explicação, Paulo de Tarso Santos anunciou que estava abandonando a empresa para se dedicar a outros negócios.
O que se descobre agora é que o publicitário, na verdade, deixou a Matisse por suspeita de desviar recursos públicos. Sua agência recebia as verbas do governo para pagar anúncios de campanhas oficiais, mas o dinheiro não chegava ao destino – pequenas emissoras de rádio e jornais do interior. O que aconteceu? Por enquanto o máximo que se pode dizer é que alguém embolsou os valores, e o publicitário, como sócio da empresa, foi responsabilizado por isso.
A saída de Paulo de Tarso da Matisse tem relação direta com as irregularidades. No início do ano, a Secretaria de Comunicação (Secom), chefiada pelo ministro Franklin Martins, tomou conhecimento de que um grupo de pequenas empresas de comunicação reclamava ter sido vítima de um calote de 5 milhões de reais por parte do governo federal.
Os casos não se encaixavam nos tradicionais atrasos provocados pela burocracia e, curiosamente, envolviam sempre a mesma agência, a Matisse. Dívidas que se arrastavam havia mais de cinco anos e que começaram a criar dificuldades para o próprio governo. Além do constrangimento, algumas emissoras passaram a recusar publicidade oficial. A Secom tentou contornar o problema, notificando formalmente a Matisse para que quitasse as dívidas. Em outra frente, também mudou seu sistema de pagamento. Antes, o órgão repassava dinheiro às agências depois que elas comprovavam a exibição da propaganda. Agora, além de comprovar a exibição, as agências precisam atestar o pagamento aos veículos.
A mudança de procedimento ocorreu após duas reuniões entre o ex-marqueteiro de Lula Paulo de Tarso e executivos da Presidência da República, no início do ano. Numa delas, inclusive, os ânimos se exaltaram.
Ao ser questionado sobre a falta de pagamentos, o publicitário teria insinuado que aquilo era um procedimento normal. Exaltado, o secretário executivo da Secom, Ottoni Fernandes Junior, teria convocado seguranças para expulsar Paulo de Tarso de sua sala. A discussão foi narrada a VEJA por uma pessoa muito próxima aos dois personagens – que não querem falar sobre o assunto.
"Não vou comentar a suposta expulsão", disse Ottoni a VEJA por meio de sua assessoria. Paulo de Tarso admite que as reuniões foram muito duras, mas diz que a versão do que exatamente ocorreu cabe a Ottoni. "A versão sempre deve ser do cliente", afirmou a VEJA o ex-marqueteiro de Lula. "Tínhamos um passivo de 1,5 milhão de reais com os fornecedores. O escalonamento é uma coisa normal. Mas a Secom também devia para a gente", justifica.
Freud, o agente 0013
Freud Godoy é um homem de múltiplas habilidades – e de inúmeras conexões dentro do PT. Ele já foi segurança particular de Lula durante campanhas eleitorais, "assessor especial" da Presidência da República e prestador de serviços da Bancoop, Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo, acusada de dar um golpe de 100 milhões de reais em seus clientes.
Sua carreira sofreu um abalo duro em 2006, quando ele se viu enredado no escândalo dos aloprados. Rememorando: às vésperas da última eleição presidencial, um grupo de petistas foi flagrado com uma mala cheia de dinheiro, tentando comprar um dossiê fajuto montado para atacar políticos do PSDB.
Os envolvidos, pegos com a boca na botija, disseram que estavam a serviço de um tal de "Froude" ou "Freud". Ele nunca admitiu participação na operação, mas, por via das dúvidas, pediu demissão da Presidência. Submerso desde então, acaba de voltar à ativa, repaginado. Decidiu fazer dinheiro no mundo da espionagem.
Mas – atenção – ele jura que não escarafuncha a vida de ninguém. Freud Godoy explica que agora ganha a vida protegendo seus clientes da bisbilhotice alheia. É o que se chama, no jargão do ramo, de contraespionagem.
Há duas semanas, ele tornou pública sua nova atividade. Orgulhoso, com uma gravata digna de presidente da República e se apresentando como CEO, pilotava pessoalmente o estande de sua empresa, a Caso Sistemas de Segurança, em uma feira no Expo Center Norte, tradicional local de exposições na capital paulista.
Animado, explicava aos potenciais clientes os serviços que oferece. Quer saber se seu telefone foi grampeado? Está desconfiado de uma escuta clandestina no sofá, dentro de um vaso ou atrás de uma tomada? Acha que esconderam um rastreador de GPS no seu carro? Chame o Freud! A equipe dele faz uma varredura completa contra as artimanhas dos espiões por módicos 100 reais por metro quadrado inspecionado.
O ideal, segundo o aloprado, é fazer o serviço à noite ou no fim de semana, quando as empresas estão vazias. As traquitanas dos agentes da Caso – maletas antigrampo, aparelhos portáteis de raios X, detectores metálicos – são de tecnologia alemã e israelense. Segundo Freud, custaram 500 000 reais.
Carta Capital
Parece-me ouvir a gargalhada borbulhante do general Golbery do Couto e Silva enquanto o Supremo Tribunal Federal nega a revisão da Lei da Anistia pedida pela OAB. Golbery é personagem a merecer estudos profundos na qualidade, em primeiro lugar, de imbatível conhecedor da alma dos privilegiados do Brasil. Sem dar-se conta disso, eles se portam conforme o figurino traçado por quem já foi tido como o Merlin do Planalto.
Não cabe, obviamente, enxergar em Castello Branco ou em Ernesto Geisel reencarnações do rei Artur. Não passaram de títeres nas mãos do seu chefe da Casa Civil. João Figueiredo lá pelas tantas, quando explodiram as bombas do Riocentro, tentou livrar-se do titereiro e conseguiu. Nem por isso escapou ao roteiro preestabelecido por Golbery. Com a inestimável contribuição de um professor gaúcho, Leitão de Abreu, que falava alemão mas não conhecia a alma dos privilegiados.
Protagonista brasileiro da guerra fria, atento ao descompasso entre as sístoles e diástoles da política nativa, Golbery criou a ideologia do golpe de 1964 e, a partir de dez anos depois, ditou as regras da distensão que virou abertura. Fatais a derrota das Diretas Já, a enésima consagração da conciliação das elites na Aliança Democrática e a eleição indireta de janeiro de 1985. Disputada por quem Golbery previamente escolhera, Tancredo Neves e Paulo Maluf.
Chamaram o que se seguiu de redemocratização. Da mesma forma, teimaram em batizar o golpe de revolução. Palavras sem significado, cultivadas por uma elite responsável pelo atraso do Brasil, a despeito das extraordinárias vantagens que a natureza conferiu ao País. Hoje, Golbery se riria com o aval que o Supremo dá à Lei da Anistia por ele excogitada e finalmente imposta pela ditadura.
O voto do STF agrada aos candidatos Dilma, Serra e Marina. Não há um, um somente, que se queixe. E não se exclua que os ministros do Supremo tenham votado pela manutenção – belas e inesquecíveis exceções Carlos Ayres Brito e Ricardo Lewandowski – na certeza de contribuir para a paz geral da nação em um ano eleitoral. O que move os senhores da corte, da política, da mídia? O inesgotável medo do retrocesso ou a inesgotável vocação conciliatória?
Impactos relacionados à soja minam apelo do biodiesel
A partir de janeiro deste ano, cada litro de diesel vendido nos postos passou a conter 5% de biodiesel. O consumo de fontes energéticas menos poluentes que os combustíveis fósseis pode ser considerado um bom sinal diante dos riscos relacionados às mudanças climáticas, mas os impactos socioambientais vinculados ao biodiesel também são capazes de surpreender quem imagina ter a culpa reduzida toda vez que enche o tanque do veículo.
De todo o volume de biodiesel produzido no país, cerca de 80% são extraídos a partir da soja. Das 48 usinas de processamento dedicadas especificamente à produção do agrocombustível atualmente em funcionamento, 42 utilizam a soja como matéria-prima.
Quando lançado em 2004, o Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel (PNPB) prometia inclusão social de pequenos produtores rurais combinada com a disseminação de fontes alternativas (como a mamona). Mas desde que o país vem produzindo biodiesel em maior escala, o domínio da soja nunca chegou a ser ameaçado.
Além disso, o direcionamento do grão para o setor de geração de energia é cada vez maior. Em 2008, foram consumidos 3,5 milhões de toneladas de soja para a produção de biodiesel, o que representava cerca de 5,8% de toda a safra da época.
Em 2010, 8,3 milhões de toneladas devem virar fonte de energia, quantidade que equivale a 12,3% do total produzido. Ou seja, em apenas dois anos, a proporção de soja para biodiesel mais do que dobrou.
"Mais do que o fracasso do programa oficial de inclusão de pequenos produtores de mamona e dendê na cadeia dos agrocombustíveis renováveis", revela o relatório "Os impactos da soja na safra 2009/10", produzido pelo Centro de Monitoramento de Agrocombustíveis (CMA) da Repórter Brasil, dados como esses indicam "que todos os problemas ambientais, sociais e trabalhistas ligados ao atual modelo de expansão da sojicultura colocam-se como obstáculos aos discursos empresariais e governamentais de que os agrocombustíveis brasileiros são paradigma da chamada ´energia limpa´".
Fonte: http://congressoemfoco.com.br/
Nenhum comentário:
Postar um comentário