terça-feira, 16 de março de 2010

JENNIFER KLOKER e o caminho da verdade

A máscara caiu


Fonte: http://www.diariodepernambuco.com.br/



Sobre a cabeça, um capuz preto. Nos olhos, óculos escuros. Nenhum detalhe da face do jovem de 26 anos, pode ser visto, revelado. Há 15 dias, a vida dele virou de cabeça para baixo, segundo conta, depois de um encontro marcado com Delma Freire de Medeiros durante uma ligação telefônica. O assunto posto na mesa pela velha conhecida, apresentada a ele em 2003 em uma boate gay no Recife, não era nada amigável. Tratava-se de um convite tão escabroso quanto aquele proposto há sete anos.


Foto: Gil Vicente/DP DA Press
Delma Freire, disse o jovem, queria que ele assumisse participação em um crime de grande repercussão no estado e até fora do país. Bastaria ele confessar na Polícia Civil que pilotava a moto que abordou a família Tonelli durante o assalto no Curado que terminou com a morte da alemã Jennifer Kloker. Depois disso, teria a garantia de R$ 20 mil no bolso e ainda um passaporte para escapar antes de seguir para atrás das grades.

O roteiro novelesco foi abaixo depois que o rapaz, que está em regime condicional depois de cumprir quatro anosde prisão por estelionato e tráfico de drogas, resolveu contar a suposta trama a policiais do Grupo de Operações Especiais, onde tem conhecidos. Lá mesmo ele confirmou aos repórteres o que o Diario já havia adiantado por meio de informações de fontes: Delma Freire teria participação em tráfico de seres humanos. Mais: envolvimento com tráfico de drogas. O próprio rapaz já teria recebido um convite de Delma de levar cocaína para o exterior, onde viveria com o dinheiro de programas. Depois de toda essa reviravolta, agora ele conta que só pensa em iniciar o curso de direito para o qual acabou de ser aprovado e em lançar um livro que produziu enquanto esteve preso. O tema: ressocialização.

O primeiro contato

Delma me procurou. Ela já me conhecia desde 2003, quando tentou me mandar para a Itália, pelo fato de eu ser homossexual. Lá eu faria programas, mas não aceitei. Sai da cadeia em dezembro do ano passado e estou em regime aberto. Foi lá que ela conseguiu meus contatos para fazer a proposta para que eu assumisse o homicídio de Jennifer por R$ 20 mil.

O telefonema
O primeiro contato foi por telefone. Não me pergunte data que eu não me lembro. Foi uns 15 dias depois do assassinato de Jennifer. Ela me ligou e disse que precisava conversar comigo porque tinha uma proposta interessante para mim e que eu não me arrependeria. Aí ela disse que ia ligar de novo. Ligou e marcou um encontro no Shopping Tacaruna.

O encontro
Quando a gente se encontrou no Shopping Tacaruna, ela estava com dois homens dentro do carro e todos dois estavam armados. Lá ela me ameaçou de morte. Ela é uma pessoa muito influente. Quando eu cheguei, ela disse que já tinha me visto e mandou que eu entrasse no Palio preto, sem placa. Ela estava no banco de trás e tinha um homem branco e um moreno na frente. Depois disso, nos falamos sempre por telefone. Foram umas 50 ligações no período.

A proposta
Ela fez a proposta dentro do carro. Falou que eu não ia me arrepender e que vacilo com ela não tem perdão. Disse que estava arrependida, mas não disse em relação a que. Falou que me apoiaria, não me abandonaria e já tinha até o passaporte falso para que eu saísse do país. Ela garantiu minha fuga. Disse que não tinha como o delegado fazer minha prisão no mesmo dia porque não tinha flagrante. Hoje (ontem) mesmo eu sairia do DHPP e ela me colocaria em um apartamento em Olinda. O dinheiro seria entregue para mim na saída do DHPP por Fernando, que trabalha com Doutor Avelino.

No escritório
Só voltamos a nos encontrar hoje (ontem) no escritório do doutor Célio Avelino. Não conhecia ele. Quando cheguei lá, Fernando (funcionário do escritório) já estava me esperando e me levou até a sala do advogado. Delma também já estava lá. Ele pediu que Fernando nos deixasse a sós e começou a contar a história, que até então eu não sabia como tinha acontecido: quem tinha matado, se era uma moto, se era um carro preto#Eu estava acompanhando o caso de longe. Ela instruiu toda a conversa e me disse como falar, tanto com a imprensa como com o delegado. Lá foi determinado como seria a minha entrevista para a Globo. Fui orientado a passar confiança para o jornalista de que eu tinha participado do crime. Doutor Avelino me orientou a não entrar em contradição. Falou que, se tivesse pergunta não cabível, eu ficasse calado. Se ele tinha consciência da farsa, eu não sei. Só sei que ele escolheu que a entrevista deveria ser dada à Globo porque causaria mais impacto. O escritório dele foi o local escolhido por ser considerado um lugar mais seguro.

A entrevista
A repórter percebeu que eu estava sendo coagido. Ela disse que eu não tinha cara de ladrão nem de matador. Disse para ela que Suzane Richtofen não tinha cara de assassina e matou os pais. Na entrevista tentei colocar o máximo de mim para as pessoas acreditarem que eu era o criminoso, mas nem eu acreditava em mim. Quando acabei de conversar com a repórter, doutor Avelino falou que eu tinha me saído bem, mas era para eu ter feito uma expressão mais de ódio, de que não estava arrependido.

A versão
Fui orientado pelo doutor Avelino a dizer que eu era piloto da moto e um tal de Pedrinho teria sido o autor dos disparos.

Tráfico
Quando conheci Delma, em 2003, em uma boate do Recife, ela chegou me fazendo a proposta de levar para a Itália 600 gramas de pasta base de cocaína no ânus. Em troca, eu receberia 1.500 euros. Ela compraria minhas passagens e me garantiu que eu não sofreria. Viveria de prostituição. Ela me conhecia das boates. Me achava interessante, inteligente. Eu tinha vinte anos. Ela aliciava garotos de programa e levava para lá. Queria que eu fosse também, mas fiquei com medo de ir para a Europa. Não sei se os meninos levavam drogas. Eu levaria.

Proteção de vida
Pedi a proteção da polícia, mas não sei se vou mudar de endereço. Tenho medo dessa situação. Delma é fria e calculista, capaz de tudo para conseguir seus ideais. Graças ao apoio da polícia, eu desisti de contar a farsa. Procurei o GOE porque conheço o delegado (Cláudio Castro). Já tinha decidido contar a verdade, quando sai do escritório, após a entrevista. Não estou mostrando o rosto para preservar minha vida. Minha vida está acima de tudo. Uma coisa é ela me conhecer. Outra coisa é os comparsas dela me conhecerem. Delma tem capacidade de me matar. Ela teria capacidade de fazer coisa pior.

As provas
Tenho provas de que estou falando a verdade. Tenho as ligações telefônicas, a filmagem no escritório. O delegado que está à frente do caso disse que tem todas as ligações rastreadas.

O futuro
Meu futuro já está decidido desde o dia que sai da cadeia. Sai de cabeça erguida. Passei no vestibular de direito. Tenho o lançamento de meu livro, que fiz dentro da cadeia. Fala da ressocialização. Não quero vender livro, não quero fazer mídia. Vou dar para os presidiários. Lá tem muita gente inocente, com vontade de querer mudar de vida, assim como eu também mudei.

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