quinta-feira, 25 de março de 2010

Cuba de Yoani Sánchez - A Guerreira da Liberdade!

O legado 

Por Yoani Sanchéz 

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Vêm tempos difíceis. Sou otimista no longo prazo, porém a inquietude me tolhe ante os anos que se avizinham. Há muita tensão acumulada. Semearam sistemáticamente entre nós o repúdio à opinião diferente e isso não se apaga em pouco tempo. Ontem quando vi uma dona de casa que gritava em tom vulgar “os vermes estão protestando” - referindo-se a peregrinação das Damas de Branco - constatei como é longo o caminho da tolerância que temos pela frente. Aprender a debater sem ofender, a conviver com a pluralidade e a respeitar as diferenças, terá que se constituir numa matéria obrigatória em nossas escolas. Será um longo processo fazer que todos entendam que a diversidade não é uma doença mas sim um alívio.

Temo que o grito torne-se crônico entre nós e que a bofetada continue sendo o caminho mais rápido para calar o outro. Estremece-me pressagiar uma Cuba onde se continua atacando física e legalmente alguém por sua filiação política ou sua tendência ideológica. Que triste país teremos se às autoridades continue parecendo natural o castigo aos que contradizem a opinião oficial. Já me redunda bastante doente uma sociedade que assiste passiva ao acosso que sofreram ontem umas mulheres pacíficas com gladíolos em suas mãos. Porém o sectarismo não parou por alí, assim é que tentaram justificá-lo e por ele prepararam as pressas um roteiro para o programa mais tedioso da televisão cubana: a Mesa Redonda. Contudo, os telespectadores - depois de duas horas de escuta estóica - confirmaram que a ausência de argumentos deixou-lhes somente o insulto, a difamação e os malabarismos verbais.

Porque não têm o valor de convidar, para este aborrecido set onde fazem um monólogo a cada tarde, ao menos um par de pessoas que pensem diferente? O mais tímido e moderado dos inconformados que conheço os desnudaria com um par de perguntas e com umas curtas frases faria cambalear sua teoria de conspiração. Porém não se atrevem. Amparados pelo poder - não há pior aliado para um jornalista - com seu verbo e sua caneta sustentados com as prebendas e os privilégios, sabem que não suportariam a artilharia da crítica. Daí que exaltam o golpe, açulam as palavras de ordem e poem uns vídeos editados para provar que o diferente tem que ser esmagado. Alimentam desse modo o fanatismo, esse germem que ameça prolongar-se além de suas próprias vidas: o legado de ódios e desconfiança que este sistema pretende deixar-nos.
Traduzido por Humberto Sisley de Souza Neto 

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