sexta-feira, 23 de outubro de 2009

AfroReggae - Silencia os seus Tambores



História do Grupo Cultural AfroReggae
O Grupo Cultural AfroReggae (GCAR) surgiu em janeiro de 1993, inicialmente em torno do jornal Afro Reggae Notícias - um veículo de informação que visava à valorização e a divulgação da cultura negra, voltado sobretudo para jovens ligados em ritmos como reggae, soul, hip-hop, etc.

Como nossos planos eram de poder ter um tipo de intervenção mais direta junto a população afro-brasileira, inauguramos em 1993 na favela de Vigário Geral o nosso primeiro Núcleo Comunitário de Cultura, iniciando assim o desenvolvimento dos nossos projetos sociais. Em pouco tempo, esse núcleo se consolidou a partir das primeiras oficinas - que foram dança, percussão, reciclagem de lixo, futebol e capoeira - e preparou o terreno para novas empreitadas.

Nessa época já se tinha bem claro o objetivo a ser alcançado, e que pode ser definido pela missão institucional que tem nos pautado até hoje: oferecer uma formação cultural e artística para jovens moradores de favelas de modo que eles tivessem meios de construir suas cidadanias e com isto pudessem escapar do caminho do narcotráfico e do subemprego, transformando-se também em multiplicadores para outros jovens.

Com o passar do tempo os projetos foram se aperfeiçoando, a instituição foi crescendo e os resultados começaram a aparecer. Em 1997, o GCAR inaugurou o Centro Cultural AfroReggae Vigário Legal, um marco na nossa história. Com um espaço físico bem estruturado dentro da comunidade, o trabalho pôde se desenvolver com maior qualidade e planejamento, e com isto foi possível tornar esta iniciativa uma referência de prática sociocultural na cidade do Rio de Janeiro.

Desde o início somos uma organização em permanente crescimento e amadurecimento. Por isto não nos prendemos nem a uma única via de projetos,nem apenas à comunidade de Vigário Geral. Atualmente, o GCAR desenvolve diversos programas e projetos em 4 diferentes comunidades.

Apesar de toda a diversidade de atividades, a música tem sido em Vigário Geral o melhor instrumento para atrair os jovens a participar do GCAR. O sucesso obtido com a Banda AfroReggae, tanto artístico quanto como modelo de projeto social, fez com que outros jovens quisessem percorrer o mesmo caminho e, hoje, temos em Vigário mais 3 grupos musicais, que estão em fase de amadurecimento, mas que já fazem apresentações públicas: Banda Makala Música e Dança, Afro Lata e Afro Samba. Além disso, em Vigário Geral existe os seguintes SubGrupos: Afro Mangue, Tribo Negra, Akoni e Kitôto.

Cidade Partida

Em Parada de Lucas, favela vizinha a Vigário, onde as facções rivais do tráfico vivem em guerra desde 1985, iniciamos em outubro de 2001 o projeto Rompendo Fronteiras, que teve o sentido de levar o trabalho social onde quer que ele se faça necessário, independente do fato de Lado A e Lado B estarem em conflito. Na verdade, a guerra que nos mobiliza é contra a pobreza e a violência, e lá em Parada de Lucas nossas armas são os cursos em diversas áreas da tecnologia digital oferecidos para a comunidade com o apoio da HP e da El Paso , além das oficinas de capoeira, história em quadrinhos e violinos.
No Cantagalo-Pavão-Pavãozinho, o GCAR utiliza a linguagem do circo - malabares, trapézio, acrobacias, etc. - para realizar um trabalho que traz alegria e consciência para jovens que viviam na corda bamba em vários sentidos. Desde 1996, funciona no anfiteatro do Ciep de Ipanema, uma oficina de circo aberta a comunidade. Como resultado destas aulas, criamos a Trupe Levantando a Lona para fazer espetáculos públicos e propiciar aos alunos que se profissionalizem como artistas.

Tem ainda o Programa de Comunicação, que conta com o site AfroReggae.org que pretende ser um grande portal sobre o GCAR e a cultura afro-brasileira em geral na internet; produzimos matérias jornalísticas para o Canal Futura e, finalmente, a AfroNet, que é um serviço de informes enviados via e-mail para manter a todos os cadastrados ligados nas atividades, eventos e iniciativas do GCAR.

Uma ONG Empreendedora

Não bastasse isso tudo, o Afro Reggae criou uma produtora - a ARPA, Afro Reggae Produções Artísticas - para dar sustentação comercial a carreira profissional dos subgrupos criados a partir dos nossos projetos sociais, em especial a Banda AfroReggae, e ainda contribuir com a ONG, já que 30% dos recursos obtidos com os eventos produzidos são revertidos para o GCAR. Ao contrário da trajetória natural do mercado, onde as grandes empresas criam institutos ou fundações para apoiar projetos culturais ou sociais, nós somos uma fundação que criou uma empresa para apoiar o nosso trabalho social.

Desde a criação do espetáculo Nova Cara, em 1998, a banda AfroReggae vinha percorrendo uma trajetória rumo a sua profissionalização que culminou com a assinatura de um contrato com a gravadora Universal para produção do CD Nova Cara. Um dado importante é o fato dessa ter sido a primeira vez no Brasil que uma banda, oriunda de um projeto social, conseguiu produzir o seu primeiro disco por uma grande gravadora.

Marca Institucional

Numa época como a atual, dominada pela mentalidade do liberalismo econômico, em que as autoridades do governo insistem no discurso de que não há recursos suficientes para combater a pobreza, o Afro Reggae vem fazendo um trabalho com poucos recursos de investir no potencial de jovens favelados, levando educação, cultura e arte a territórios marcados pela violência policial e do narcotráfico, com a marca institucional de conseguir criar alternativas de emprego e lazer.Enquanto alguns poucos que podem blindam seus carros e transformam suas casas em fortificações cercadas de sistemas de vigilância, para terem a ilusão de que estão protegidos, o Afro Reggae vem trabalhando ao longo dos anos no sentido de romper com os abismos que separam negros e brancos, ricos e pobres, na certeza de que esta é a única alternativa para que se possa construir uma paz duradoura.
Nossa crença é que a maneira mais eficiente de promover o desenvolvimento do país começa por criar oportunidades para aqueles que estão em situação de risco pessoal, a fim de que eles possam deixar de ser mais um número nas estatísticas de pobreza e violência para se tornarem cidadãos que contribuam para a construção de riquezas, e, na justa medida, possam também ter o direito de usufruir das mesmas.

Vigário foi a nossa primeira experiência, e graças ao incentivo a auto-estima dos moradores desta favela, famosa em todo o Brasil pela violência, ela agora é reconhecida como um pólo gerador de arte e cultura. Em breve esperamos poder falar o mesmo de Parada de Lucas, Cidade de Deus, Cantagalo, Pavão-Pavãozinho.

Fonte: http://www.afroreggae.org.br/sec_historia.php

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