sábado, 23 de janeiro de 2010

CANÇÃO DO EXÍLIO DA ESCOLA DE ARTES VIOLETA ARRAES



Hildegardis Ferreira


“NÃO PERMITA DEUS QUE EU MORRA
SEM QUE EU VOLTE  PRA LÁ”
QUEM ME TROUXE PARA CÁ
PREGOU PEÇA EM MEU DESTINO
FEITO SONHO DE MENINO,
FEITO BARCO DE PAPEL.
REZADEIRA SEM O VÉU???
ANTES DE TUDO É PECADO!!!
ME TIRAR DA MINHA TERRA
É AÇOITE, UM MALTRATADO

PRA ONDE OLHAM VOCÊS
OU SEM QUERER PERCEBER
UM SEMBLANTE ENTRISTECER
PELAS RUAS DA CIDADE
E POR SIMPLES VAIDADE
ME PEGARAM PELA MÃO
SEM  PEDIR A PERMISSÃO
NEM OUVIR A MINHA TERRA.
A PALAVRA É A ÚNICA ARMA
DE QUEM ABOMINA A GUERRA!!!

POR INCRÍVEL QUE PAREÇA
BEM LONGE DO PARECER
NUNCA MAIS VOU ESQUECER
A DECISÃO INFUNDADA
DITA POR UMA BOCA AMADA
DE LUTAS POR NOSSA GENTE
TEM REGISTROS NOS REPENTES
QUE GLORIFICA A HISTÓRIA
NÃO OLHOU, TOPOU NA HORA
NAS PEDRAS DO INCONSCIENTE

OS DOUTORES E SUAS MÃOS
TÃO FINAS, TÃO DELICADAS
NÃO ME FIZERAM AFAGADA
TAL QUAL AS MÃOS DOS GROTÕES.
EM SILÊNCIO, MULTIDÕES
COM SUAS MÃOS CALEJADAS
SE MOSTRARAM MÃOS DE FADAS
NESSE MOMENTO INCONTESTE
ACALMA MEU DESESPERO
TAL QUAL LIVRAR-ME  DA PESTE
  

MAS DOUTOR O TEU OLHAR
REFLETE TRANQUILIDADE
OLHAI COM TENACIDADE
NEM QUE SEJA BEM PROFUNDO
NEM QUE VÁ AO SUB-MUNDO
DAQUILO QUE NÃO COMPETE
NA FORÇA DO CANIVETE
ME RECUSO SER LEVADA
POIS É PURA TRAIÇÃO
ME DEIXAR VIR SER USADA

SAUDADES DE PATATIVA
ME ARREMETE NESSA HORA
A TRISTEZA DE IR EMBORA
COM MINHA ALMA PARTIDA
DILACERANDO A FERIDA
LEMBRANÇAS TÃO VERDADEIRAS
CARCERAGEM,  RIBANCEIRAS
QUASE NÃO SE ACABA MAIS
FEITO BARCO À DERIVA
A ESPERA DE UM CAIS

COMO DIZIA DOM HÉLDER
QUANDO A LUTA É ABSURDA
NÃO CALE, NÃO FIQUE MUDA
É LUTA APAIXONANTE
SEM QUERER SER ARROGANTE
PEDIMOS SERENIDADE
POIS RETIRAR DA CIDADE
A ARTE COM SEU TEATRO
SERÁ SÍMBOLO, SERÁ RASTRO
DE PURA PERVERSIDADE

SÓ ACREDITO EM LIBERDADE
SE FOR FEITA EM COMUNHÃO
ERA ASSIM NOBRE REFRÃO
QUE PAULO FREIRE DIZIA
E TUDO QUE SE FAZIA
TINHA QUE SER BEM PENSADO
NÃO IMPORTASSE A DEMORA
PARA NÃO SE ARREPENDER
PRA NÃO VÊ O PADECER
DE QUEM NÃO FOI ESCUTADO
   

POIS SE USASTES O MEU NOME
EU QUERO SER RESPEITADA
NÓS CONSTRUÍMOS ESTRADAS
DE VIOLETA A GERVAISEAU
LEVAMOS COM MUITO AMOR
ESSE FARDO DO DESTINO
COM GUARIDA, COM ARRIMO
DEFENDENDO O PERSEGUIDO
SEM QUE OLHASSE PRAS CORES
DE BANDEIRAS OU PARTIDO



SOLDADINHO DO ARARIPE
EU TE PEÇO POR FAVOR
ME LIVRAI DA GRANDE DOR
DO EXÍLIO AMARGURANTE
NÃO QUERO SER RETIRANTE
DE UM SERTÃO QUE É SEMPRE INVERNO
“AUTO DA BARCA DO INFERNO”
A GIL QUEREM SE IGUALAR
“NÃO PERMITA DEUS QUE EU MORRA
SEM QUE EU VOLTE  PRA LÁ”

Em defesa da permanência da Escola de Artes Violeta Arraes Gervaiseau na cidade de Barbalha, Ceará.

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