quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Terra deu, terra come

O Cineclube FGV convida para a exibição de Terra deu, terra come, eleito melhor documentário brasileiro na edição de 2010 do festival É Tudo Verdade.

O filme, de Rodrigo Siqueira, retrata, através do personagem de Pedro Alexina, o sertão mineiro, seus mistérios e seus encantamentos. Pedro é um dos últimos conhecedores dos vissungos, as cantigas em dialeto banguela cantadas durante os rituais fúnebres da região, que eram muito comuns nos séculos 18 e 19. 

Garimpeiro de muita sorte, ele já encontrou diamantes de tesouros enterrados pelos antigos escravos, na região de Diamantina. Mas o primeiro diamante, que encontrou há 70 anos, foi enterrado pelo tio em local desconhecido. Para reencontrar o diamante, Pedro precisa invocar a alma do tio, João dos Santos. 

Durante um funeral, Pedro desfia histórias carregadas de poesia e significados metafísicos.
Após a exibição do filme haverá debate com o diretor Rodrigo Siqueira e com Luciana Heymann, professora do CPDOC/FGV.

Filme: TERRA DEU, TERRA COME, de Rodrigo Siqueira (2010, 1h28’)
Data: 26 de novembro (sexta-feira)
Horário: 16h
Local: Fundação Getulio Vargas
Praia de Botafogo, 190. Auditório 1027 (10º andar)
A entrada é gratuita e não é preciso fazer reserva.

Trailer - Terra Deu, Terra Come from rodrigo siqueira on Vimeo.

Pedro de Almeida, garimpeiro de 81 anos de idade, comanda como mestre de cerimônias o velório, o cortejo fúnebre e o enterro de João Batista, que morreu com 120 anos. O ritual sucede-se no quilombo Quartel do Indaiá, distrito de Diamantina, Minas Gerais. Com uma canequinha esmaltada, ele joga as últimas gotas de cachaça sobre o cadáver já assentado na cova: “O que você queria taí! Nós não bebeu ela não, a sua taí. Vai e não volta pra me atentar por causa disso não. Faz sua viagem em paz”.
Dessa maneira acaba o sepultamento de João Batista, após 17 horas de velório, choro, riso, farra, reza, silêncios, tristeza. No cortejo, muita cantoria com os versos dos vissungos, tradição herdada da áfrica. Descendente de escravos que trabalhavam na extração de diamantes, nas Minas Gerais do tempo do Brasil Império, Pedro é um dos últimos conhecedores dos vissungos, as cantigas em dialeto banguela cantadas durante os rituais fúnebres da região, que eram muito comuns nos séculos 18 e 19.
Garimpeiro de muita sorte, Pedro já encontrou diamantes de tesouros enterrados pelos antigos escravos, na região de Diamantina. Mas, o primeiro diamante que encontrou, há 70 anos, o tio com quem trabalhava o enterrou e morreu sem dizer onde. Depois disso, vive sempre em uma sinuca: para reencontrar o diamante só se invocar a alma de seu tio João dos Santos. “É um diamante e tanto, você precisa ver que botão de mágoa.” Ao conduzir o funeral de João Batista, Pedro desfia histórias carregadas de poesia e significados metafísicos, que nos põem em dúvida o tempo inteiro: João Batista tinha pacto com o Diabo?; O Diabo existe?; estamos sozinhos, ou as almas também estão entre nós?; como Deus inventou a Morte?
A atuação de Pedro e seus familiares frente à câmera nos provoca pela sua dramaturgia espontânea, uma auto-mise-en-scène instigante. No filme, não se sabe o que é fato e o que é representação, o que é verdade e o que é um conto, documentário ou ficção, o que é cinema e o que é vida, o que é africano e o que é mineiro, brasileiro.

Um comentário:

  1. É isso meu caro, dos pequenos fragmentos de um curta, é que sairá um longa. Tema para isso não falta, parabeniso o autor e ao espaço Kariri por partilhar esses eventos culturais.
    Abraço

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