Destaque nas revistas: Ordem para espionar
Fonte: Congresso em Foco 
Veja
Ordem para espionar
Não houve os tradicionais embates entre representantes do governo e  da oposição, não houve tentativas de desqualificar a testemunha nem a  criação de teorias conspiratórias extravagantes. O delegado aposentado  da Polícia Federal Onézimo Sousa compareceu na semana passada ao Senado,  onde prestou depoimento sereno à Comissão Mista de Controle das  Atividades de Inteligência do Congresso Nacional. Ele contou aos  parlamentares detalhes da reunião com integrantes da pré-campanha  presidencial da ex-ministra Dilma Rousseff na qual ele foi convidado a  participar de um grupo que tinha o objetivo de espionar o candidato  tucano José Serra, como revelou VEJA no início do mês. Deputados  petistas que estavam no plenário elogiaram o delegado, principalmente  depois que ele confirmou que no encontro não havia ninguém filiado ao  PT. Além disso, ao tomar conhecimento do caso, a própria candidata do  partido já havia dito que desconhecia e desautorizava investidas desse  nível contra adversários. O jornalista Luiz Lanzetta, que era o  responsável pela área de comunicação da campanha e articulou a reunião  com o grupo de arapongas, foi afastado de suas funções. No final, os  petistas consideraram o caso encerrado – reduzindo tudo a uma  atrapalhada tentativa de espionagem patrocinada por pessoas contratadas  pelo partido, mas sem ligações oficiais com o PT. Caso liquidado?
Não fosse por alguns buracos surgidos no campo de força da versão  petista que preserva a cúpula da campanha, seria mesmo um caso para  arquivo. Um desses buracos se deve à reportagem do jornal Folha de  S.Paulo segundo a qual a campanha do PT reuniu clandestinamente dados  protegidos por sigilo fiscal e bancário do vice-presidente do PSDB,  Eduardo Jorge Caldas Pereira. Ex-secretário-geral da Presidência no  governo Fernando Henrique Cardoso, Eduardo Jorge sempre esteve na mira  dos petistas. A reportagem narra que a "equipe de inteligência" da  campanha de Dilma Rousseff tem em seu poder cópias de depósitos  bancários e das últimas declarações de imposto de renda do  ex-secretário. VEJA apurou que as declarações em questão cobrem de 2005 a  2009, inclusive uma retificação feita na última delas, por causa de um  erro de digitação na declaração do ano anterior. A suspeita é que os  documentos teriam sido obtidos dentro da própria Receita Federal. Há  ainda guardado no comitê petista, de acordo com o jornal, um conjunto de  papéis sobre as investigações do caso Banestado – um gigantesco esquema  de lavagem de dinheiro que foi investigado por uma CPI do Congresso, em  2003, e que envolveria partidos políticos. 
Os inquéritos do caso Banestado morreram de desidratação, mas existe a  suspeita de que os petistas queiram ressuscitá-lo, como uma forma de  criar um clima de desconfiança em relação ao principal adversário de  Dilma Rousseff – na crença de que não basta a um político ser honesto,  ele também tem de parecer honesto. VEJA apurou que, em março passado, o  delegado da Polícia Federal José Castilho Neto procurou o senador Alvaro  Dias (PSDB-PR) para lhe contar que havia sido sondado por colegas do  Ministério da Justiça sobre a possibilidade de ele voltar a Brasília e  retomar as investigações do caso Banestado. "Recebi um telefonema  perguntando se eu tinha disponibilidade para retomar essa investigação",  conta o policial. "Quando me sondaram, eu não falei nem que sim nem que  não. Fiquei aguardando um convite formal da Polícia Federal, mas não  houve retorno", conta. No início do mês, logo depois de VEJA ter  revelado a existência do grupo de espionagem, o delegado voltou a ligar  para o senador: "Lembra quando eu te procurei?... Era isso que eles  estavam querendo que eu fizesse!", disse, referindo-se ao conteúdo da  reportagem que mostrava a tentativa do comitê petista de formar um grupo  para espionar o candidato José Serra. O delegado, que até dias atrás  ocupava o cargo de assessor de segurança do governo do Paraná, não quis  revelar a identidade de quem fez a sondagem, mas confirmou que é uma  pessoa "bem colocada no Ministério da Justiça".
Quanto  valem 54 reais?
Na terça-feira passada, dia da estreia do Brasil na Copa, o  presidente Lula deu uma boa notícia a 8,3 milhões de aposentados.  Sancionou o reajuste de 7,72% para os beneficiários do INSS que recebem  mais de um salário mínimo por mês. O índice é o dobro da inflação  acumulada desde o aumento anterior e ficou acima do recomendado pela  equipe econômica. Esse grupo recebe hoje, em média, 1 273 reais. Se o  valor fosse reajustado pela inflação, como prevê a lei, essas pessoas  passariam a receber 44 reais a mais por mês. Com o novo índice, os  aposentados e pensionistas ganharão um aumento médio de 98 reais – ou 54  reais a mais do que teriam direito de fato. Os aposentados certamente  farão troça quando receberem o "presentão" de 54 reais, quantia com a  qual não se compra muito mais que uma pizza. Para as contas da  Previdência, no entanto, o afago de Lula a esses eleitores representará  um custo adicional de 4,5 bilhões de reais apenas neste ano. "Esse é um  compromisso que impactará as contas públicas de maneira permanente, sem  que o governo apresente uma fonte de receita adicional para financiar  essa despesa", afirma o economista Raul Velloso, especialista em contas  públicas.
Antes da sanção de Lula, os ministros Guido Mantega (Fazenda) e Paulo  Bernardo (Planejamento) diziam que o índice de 7,72% era uma "afronta" à  Lei de Responsabilidade Fiscal. O acordo que o governo havia fechado  com as centrais sindicais no início do ano previa reajuste de 6,14% nos  benefícios, índice já bem superior à inflação. Quando o projeto chegou  ao Congresso, o valor subiu. Oposição e situação, em rara harmonia,  alinharam-se em defesa dos 7,72%. De início, Lula reagiu e foi contra.  Chegou a falar em vetar esse índice. O presidente, no fim das contas, só  fez fita. Não iria se indispor com 8,3 milhões de eleitores (6% do  total nacional). Especialista em tirar proveito para si dos projetos de  terceiros, Lula deixou para sancionar o reajuste no fim do prazo legal.  Buscou, assim, assumir sozinho a paternidade da bondade, aprovada  semanas antes pelos congressistas. Provoca o ministro de Relações  Institucionais, Alexandre Padilha: "É bom para eles aprenderem. Qualquer  coisa que a oposição quiser capitalizar, no fim quem vai ganhar seremos  nós do governo".
O presidente, ao menos, teve o bom senso de vetar o fim do fator  previdenciário, medida que também havia sido aprovada pelo Congresso.  Sem esse mecanismo, essencial para evitar o aprofundamento no déficit do  INSS, haveria um gasto adicional de outros 4 bilhões de reais apenas  neste ano. De qualquer maneira, o governo precisará agora enxugar gastos  para compensar a despesa extra que recairá sobre o Orçamento por causa  do aumento das aposentadorias. Como invariavelmente ocorre em situações  semelhantes, os investimentos públicos deverão ser a vítima. Bilhões  valiosos, que poderiam ser usados na reforma de estradas e aeroportos,  ampliando o potencial de crescimento do país, serão transformados em 54  reais a mais no bolso dos aposentados.
Cala boca Galvão:  um fenômeno planetário
Ferir com palavras, pondo para  circular histórias falsas com o objetivo de irritar ou destruir alguém, é  uma prática tão antiga quanto a história humana. A humanidade viajava  ainda à velocidade de 16 quilômetros por hora das carroças, mas as  notícias ruins e fofocas já pareciam ter asas. As línguas de trapo mal  esperavam o conquistador romano Júlio César, talvez o mais celebrado  general e estadista de todos os tempos, sair de Roma para começar seu  trabalho de intriga e destruição. Conforme registrou o historiador Gaius  Suetonius Tranquillus, morto por volta do ano 122 da era cristã, o  patriciado "punha para circular histórias" dando conta de que César  arrancava todos os pelos do corpo com pinças e era chamado de "marido de  todas as esposas e esposa de todos os maridos". Foi assim antes com  gregos, macedônios e egípcios. As maledicências continuaram viajando  mais rápido na Idade Média, durante e depois da Revolução Industrial. O  que há de novo nesse campo? A internet. Se já voavam de ouvido em  ouvido, as fofocas e falsidades ganharam o dom da instantaneidade com os  milhões de computadores, celulares e tablets de todo o planeta  interconectados por uma rede em que, pela primeira vez na história,  todas as máquinas se comunicam na mesma linguagem, sem  incompatibilidades nem fronteiras. 
A fofoca digital pode criar verdadeiros tsunamis que chicoteiam o  globo jogando as opiniões de milhões de pessoas de um lado para o outro.  Antes que alguém possa verificar a verdade de um fato, sua versão ou  versões já se tornaram o fenômeno. O caso que engolfou o locutor Galvão  Bueno, a voz oficial das Copas do Mundo e das Olimpíadas nas  transmissões da Rede Globo, é uma amostra do poder dessas novas  correntes de pensamento criadas na internet. "Cala a boca, Galvão" era  uma tirada que já circulava por aí fazia anos. Há pouco mais de uma  semana, contudo, ela ganhou o mundo. Postada por usuários no Twitter, a  rede social de troca de mensagens de até 140 caracteres, a frase CALA  BOCA GALVAO - assim mesmo, em letras maiúsculas, sem vírgula e sem  acento - virou hit e se manteve entre os dez assuntos mais comentados do  serviço da internet durante toda a semana. Os brasileiros aumentaram a  fervura, atribuindo sentidos absurdos à frase: segundo uma das versões,  em português, cala boca significaria salve, e galvão, o nome de um  pássaro em extinção. Alguns dos maiores sites e jornais do mundo, como o  The New York Times, tentaram decifrar a brincadeira, e assim a  difundiram ainda mais. 
Época
Proteger  menos para preservar mais
Olir Schiavenin cresceu rodeado por parreirais. Neto de imigrantes  italianos, aprendeu ainda menino como cultivar uma boa uva para fazer  vinho de qualidade. A propriedade da família fica em Flores da Cunha, na  Serra Gaúcha. Ali, é tradição os colonos tirarem o sustento da terra.  Para Schiavenin não é diferente. Aos 56 anos, ele mantém a família com o  dinheiro da venda do que é colhido no campo. Junto com o irmão, tem uma  pequena fazenda de 42 hectares herdada dos avós. As videiras ocupam 7  hectares. Estão nas encostas dos morros, áreas acidentadas e frias de  onde saem as melhores safras. A cada ano, suas parreiras produzem vinho  suficiente para colocar mais de 170 mil garrafas nas prateleiras dos  supermercados. A economia da região depende dessa cultura. Só no Rio  Grande do Sul são mais de 15 mil pequenos lavradores sobrevivendo  principalmente do comércio da uva. Só tem um problema: a grande maioria  está ilegal. 
Não lhes falta permissão para produzir o vinho ou  comprovação de títulos da terra. Seus plantios transgridem a lei porque  estão em áreas de proteção permanente, as chamadas APPs. São vegetação  na margem dos rios (matas ciliares) ou topos e encostas de morros. Esses  últimos, exatamente o local com geografia e clima dos mais apreciados  pela uva. Muitos agricultores não cumprem tampouco a obrigação de manter  parte das florestas da propriedade intocada, as reservas legais. Apesar  de irregulares hoje, Schiavenin e seus parceiros do campo estão ali  muito antes de a legislação existir. “Coloco a cabeça no travesseiro e  durmo tranquilo”, diz ele. 
O conflito com a lei atual não é um problema apenas para os  produtores de uva gaúchos. Ele preocupa todo o setor agrícola do país. O  Brasil necessita produzir mais grãos, legumes, frutas e hortaliças.  Mesmo com o aumento da produtividade no campo, o crescimento vai exigir  mais terras destinadas à agricultura. E não pode mais prosseguir com a  situação de insegurança no campo. Argumentos ambientais são cada vez  mais invocados para justificar barreiras comerciais entre países. Com a  onda verde globalizada, é preciso rigor para entrar no exigente mercado  internacional. A Europa deixou de comprar soja do Brasil anos atrás  porque ONGs ambientalistas associaram o grão à devastação da Amazônia. 
Raça,  aqui, não
Ao final da sessão na Comissão de Constituição e Justiça do Senado,  na semana passada, o senador Demóstenes Torres (DEM-GO) e o ministro da  Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Eloi Ferreira,  trocaram um aperto de mãos. Os dois estavam satisfeitos. Ferreira, pelo  fato de exercer o cargo no momento em que uma questão simbólica para sua  pasta se concretizava. Demóstenes estava satisfeito pelo que havia  conseguido retirar do texto. Os dois tratavam do Estatuto da Igualdade  Racial, aprovado após mais de uma década de tramitação. 
Entre outras coisas, o estatuto estabelece a adoção de ações  afirmativas para reduzir as desigualdades entre as etnias, obriga o  ensino de história da África e da população negra no Brasil, garante  direitos de saúde e moradia a negros e reconhece os direitos de  populações que vivem em terras de quilombos. Seu principal objetivo, no  entanto, era estabelecer o sistema de cotas raciais para aumentar o  acesso de negros a universidades, empresas e até partidos políticos. Era  o principal desejo de ONGs e militantes do movimento negro. Mas ficou  pelo caminho. 
Para conseguir a aprovação no Congresso, o projeto sofreu muitas  mudanças. Em acordo com o autor, senador Paulo Paim (PT-RS), o relator  Demóstenes Torres substituiu no texto a palavra “raça” por “etnia”.  Torres também suprimiu o artigo que estabelecia o sistema de cotas. A  questão das cotas será tratada em um projeto separado, da senadora Serys  Slhessarenko (PT-MT), que já tramita no Senado. “O Congresso se recusou  a criar uma lei que distribuiria direitos com base em critérios de raça  e exterminaria o princípio de igualdade no Brasil”, diz o geógrafo  Demétrio Magnoli, autor do livro Uma gota de sangue e contrário à adoção  das cotas. “Foi uma derrota do projeto racialista, apesar de suas  pressões.”
“Tudo tem limite, companheiro”
A estratégia montada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para  tentar fazer a ex-ministra Dilma Rousseff sua sucessora prevê uma série  de sacrifícios para o PT. Em troca do apoio a Dilma, o PMDB indicou o  vice na chapa nacional e ainda tem preferência nas candidaturas a  governador. Em vários Estados, nomes importantes do PT desistiram de  concorrer ao governo para fortalecer aliados peemedebistas. 
As pressões feitas pelo comando nacional do PT para fazer valer a  vontade de Lula tiveram êxito em quase todos os Estados. No Maranhão, no  entanto, o projeto eleitoral do Planalto se transformou em um enorme  constrangimento para o presidente. No dia 11, o líder de trabalhadores  rurais Manoel da Conceição entrou em greve de fome no plenário da Câmara  para protestar contra a imposição do apoio à reeleição da governadora  Roseana Sarney, do PMDB, filha do presidente do Senado, José Sarney. Ao  lado dele, também em greve de fome, estava o deputado Domingos Dutra  (PT-MA). 
O game eleitoral de Serra
Há um mês, o candidato do PSDB à Presidência, José Serra, enfrenta  problemas. Começou com uma tosse, que virou uma irritação na garganta e,  depois, um pequeno problema respiratório. Serra tem tomado medicamentos  desde então, mas não consegue superar completamente as adversidades. A  rotina de poucas horas de sono e de viagens constantes, que o colocam  dentro de aviões com ar-condicionado e o obrigam a trocar o calor do  Piauí pelo frio do Rio Grande do Sul em menos de 24 horas, não ajuda. O  incômodo coincide também com o momento da campanha de Serra, que busca  fechar as últimas alianças e afinar um discurso equilibrado entre os  ataques à candidata do PT, Dilma Rousseff, e a fuga do confronto direto  com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, dono de alta popularidade.  Falta também escolher um candidato a vice para compor a chapa e aparar  arestas internas. 
Diante dos desafios, o PSDB, um partido pouco orgânico e nada  disciplinado, logo deu início ao festival de cornetadas que assombrou  suas campanhas presidenciais em 2002 e 2006. Ou seja, foi criado mais um  problema.
Somente quando superar esse labirinto, repleto de  obstáculos até sua saída (leia o quadro) , Serra poderá entrar de vez na  disputa pelo Planalto, avaliam os tucanos com poder de decisão na  campanha.
O corneteiro do Planalto
O presidente Lula concedeu, na semana passada, duas grandes bondades  com o dinheiro dos contribuintes. Primeiro, Lula sancionou o aumento de  7,72%, aprovado pelo Congresso, para os cerca de 8 milhões de  aposentados que ganham mais de um salário mínimo. Depois, Lula autorizou  reajustes e gratificações para funcionários da Câmara dos Deputados. A  medida relativa à Previdência substituirá o aumento de 6,14% concedido  em janeiro e representará um gasto anual de mais de R$ 1,6 bilhão acima  do previsto. O aumento nos benefícios da Previdência veio, mesmo depois  que os ministros da área econômica recomendaram o veto do reajuste de  7,7% devido ao impacto nos gastos públicos.
O rombo da Previdência, que passa de R$ 50 bilhões por ano, deverá  aumentar. O contingente de trabalhadores do setor privado que contribui  para o INSS é insuficiente para dar conta das aposentadorias. Com o  aumento, o governo piora essa relação e joga para o próximo governante a  responsabilidade de tomar medidas urgentes – e amargas – para arrumar a  casa. “O Brasil passou bem pela crise internacional, mas precisa  melhorar seus indicadores de solvência. Um deles é a qualidade do gasto  público, quase todo comprometido com folha de pagamentos e Previdência”,  diz o economista Robert Wood, analista para a América Latina da  Economist Intelligence Unit, braço de pesquisas e análises da revista  britânica The Economist. “O nível de investimento público é muito baixo.  Na região, México e Chile investem muito mais.”
Enquanto os ministros da área econômica criavam a expectativa de um  veto, Lula usava todo o prazo legal de que dispunha para decidir sobre a  medida provisória. No última dia, em vez de tomar uma medida racional,  mas impopular, optou pelo caminho mais fácil e concedeu o aumento, que  poderá ajudar a levar mais votos para a candidata do PT à Presidência,  Dilma Rousseff. Pelas manchetes dos jornais populares (leia ao lado),  Lula tem todos os motivos para acreditar que vai faturar politicamente  com o episódio. “Foi jogo de cena, e a equipe econômica, ao pedir o  veto, fez sua parte na encenação”, diz o cientista político David  Fleischer, da UnB. “Eu esperava por isso. O Lula adora fazer cortesia  com o chapéu alheio”, disse o líder do PSDB na Câmara, João Almeida  (BA).
IstoÉ
Tudo nas mãos de Lula
Em  ano de eleições, é comum os parlamentares aprovarem projetos que possam  lhes granjear popularidade. O que importa é garantir benesses,  favorecer corporações que rendam voto, privilegiar regiões e currais  eleitorais e agradar a grandes financiadores de campanha. Se os projetos  não têm racionalidade, se as contas de seus custos não fecham, se vão  sangrar os cofres públicos, pouco importa. O velho e bom Tesouro Federal  que pague a conta. Este ano, o já batido vício dos políticos  brasileiros ganhou, porém, uma força especial. Valendo-se dos altos  índices de aprovação do presidente Lula e contando também com os  interesses do governo na campanha eleitoral, o Congresso tem se sentido  ainda mais à vontade para repassar batatas quentes ao Poder Executivo.  Tudo cai no colo de Lula.
Os casos são variados – e potencialmente explosivos para o  contribuinte. Coube ao Planalto, por exemplo, vetar o fim do fator  previdenciário, evitando mais uma vez a sonhada antecipação de  aposentadorias de milhões de brasileiros. Lula também terá de arcar com o  ônus de podar artigos do marco regulatório do pré-sal que prejudicam os  Estados produtores de petróleo. Vai parar em suas mãos ainda o novo  Código Florestal, que anistia desmatadores, aumenta drasticamente a  poluição atmosférica e transforma em pó compromissos internacionais do  Brasil na defesa do meio ambiente. É um verdadeiro festival de bondades  no Congresso. “Os parlamentares estão votando de olho nas urnas”,  reconhece o presidente nacional do PT, José Eduardo Dutra. “Em época de  eleição, o Congresso delibera com um olho no painel de votações e outro  nas bases.”
Candidato ficha imunda
O  ex-governador de Alagoas Ronaldo Lessa (PDT) pretende ocupar pela  terceira vez o Palácio dos Palmares. Nas últimas pesquisas, ele está em  segundo lugar, atrás do ex-presidente Fernando Collor e pouco à frente  do atual governador, Teotônio Vilela Filho (PSDB). Mas o que pode  comprometer o projeto de Lessa é seu passado recente. No momento em que o  País debate a questão dos candidatos ficha-suja, o ex-governador é réu  em mais de 30 processos e está com seus bens bloqueados pela Justiça  Federal e pelo Tribunal de Justiça de Alagoas. Com um patrimônio pessoal  declarado de R$ 500 mil, o Ministério Público quer que ele devolva R$  240 milhões desviados em convênios e negócios já julgados ilegais. “São  dois desvios de verbas, um do dinheiro que o governo federal mandou para  a educação e outro de recursos da merenda escolar”, afirma a promotora  Cecília Carnaúba, autora de uma das ações de improbidade contra Lessa.  “As irregularidades do governo Lessa estão todas comprovadas com  documentos”, completa a promotora.
Com base na ação do Ministério Público Estadual, o juiz Manoel  Cavalcante de Lima Neto determinou a indisponibilidade dos bens de Lessa  e do ex-secretário de Educação José Márcio Malta Lessa (tio de Lessa) e  do deputado federal Maurício Quintella Lessa (PR), primo do  ex-governador. A ação foi movida depois de constatado o desvio de R$ 52  milhões de convênios firmados com a União, em 2004 e 2005. Destinada  exclusivamente à capacitação de professores, reforma de escolas e  transporte escolar, a verba foi repassada ao Estado, mas sumiu da conta e  teria ido parar no caixa único de Alagoas. Segundo a promotoria, não se  comprovou se o dinheiro foi gasto nem como foi aplicado. Por causa da  fraude, o ministro da Educação, Fernando Haddad, chamou os membros da  promotoria em Brasília e a partir dali a União passou a mantê-los  informados sobre cada parcela do repasse feito ao governo de Alagoas.  Do total de R$ 52 milhões, somente R$ 11 milhões foram aplicados na  educação estadual.
Outro processo que ameaça o futuro político de Lessa é uma ação por  improbidade administrativa que corre sob segredo de Justiça. O processo  trata sobre desvios de recursos federais superiores a R$ 200 milhões,  repassados para a Secretaria de Educação entre 2003 e 2005, que deveriam  ser usados para a compra de merenda escolar. A quadrilha, como define a  Polícia Federal, fez contratações irregulares de transporte escolar e  aquisições superfaturadas de livros didáticos. Em setembro de 2008, a  juíza substituta da 3ª Vara da Justiça Federal, Cíntia Brunetta,  determinou o primeiro bloqueio de bens de Lessa. Durante a investigação,  a Controladoria Geral da União identificou superfaturamento de 180% na  compra de livros didáticos. A empresa J.F. Santos vendeu ao governo uma  remessa de livros por R$ 20,50 cada um. Na editora, o preço unitário era  de R$ 7. Somente com a compra desses livros, o governo de Alagoas teve  um prejuízo de R$ 1,35 milhão. Outra fornecedora do Estado, a S.A.  Oliveira Comércio, é uma “empresa fantasma”, ainda segundo o Ministério  Público.
A sombra do mensalão na capital
A  novela sobre quem deve administrar Brasília parece não ter fim. Na  última semana, a vice-procuradora-geral da República, Deborah Duprat,  reforçou o pedido de intervenção no Distrito Federal, por conta do  Mensalão do DEM. Em documento entregue ao Supremo Tribunal Federal  (STF), Deborah diz que a extensão do esquema de corrupção é bem maior do  que se pensava. “As investigações apontam o envolvimento de mais de 26  deputados, entre titulares e suplentes”, sustenta. O parecer da  procuradora vem exatamente no momento em que as forças políticas da  capital pareciam estar juntando seus próprios cacos. A vice-procuradora  vai além e critica a eleição do governador Rogério Rosso (PMDB),  ex-integrante dos governos de Joaquim Roriz e de José Roberto Arruda.  “Coincidentemente, dos 13 votos que asseguraram sua vitória, oito são de  deputados citados na investigação do suposto esquema de pagamento de  propina no DF”, diz Deborah. “É ululante, portanto, que enquanto a  Câmara exalta a soberania popular, promove ardis de proteção mútua dos  parlamentares envolvidos.”
O parecer de Deborah pode atrapalhar as composições que já vinham  sendo costuradas. O PT, do ex-ministro do Esporte Agnelo Queiroz, já  formalizou uma coligação com o PMDB do deputado Tadeu Filipelli. O  candidato é Agnelo. Ambos vão apoiar no plano nacional a ex-ministra da  Casa Civil Dilma Rousseff. O PSC de Joaquim Roriz acertou aliança com o  PSDB, que vai apoiar o ex-governador de São Paulo José Serra para a  Presidência da República. Tudo pode ser atropelado, caso a intervenção  seja aprovada no STF. Até o sonho do governador Rogério Rosso, do PMDB,  que ensaia uma carreira solo e ameaça apoiar o PSDB de Serra se o PMDB  não deixá-lo fazer parte da composição da chapa, pode ruir. “Não tenho  nada contra a chapa Agnelo e Filipelli. Eu só acho que é uma chapa que  perde as eleições”, disse Rosso.
O que pesa a favor dos políticos brasilienses é que a  Procuradoria-Geral da República já recebeu vários sinais do STF de que a  intervenção na capital dificilmente será aprovada, apesar da  insistência do procurador-geral Roberto Gurgel. “Para nós a intervenção  ainda é necessária”, comentou Gurgel com assessores. Para o  constitucionalista José Afonso da Silva, dificilmente o STF tomará uma  decisão mais drástica. “A intervenção é um processo traumático. É sempre  complicado porque afasta a autonomia de uma unidade da federação para  nomear um interventor”, diz ele.