sábado, 19 de setembro de 2009

Mentirosos Inatos

Por que mentimos,e por que somos tão bons nisso? A resposta é simples: porque funciona.

por David Livingstone Smith
Segundo essa teoria, a extraordinária explosão da inteligência na evolução dos primatas foi impulsionada pela necessidade de dominar formas cada vez mais sofisticadas de trapaças e manipulações sociais. Os primatas tiveram de ficar espertos para acompanhar o desenvolvimento do jogo social. A hipótese da inteligência maquiavélica sugere que a complexidade social impulsionou nossos ancestrais a se tornarem cada vez mais inteligentes e adeptos a alterar rotas, negociar, blefar e conluir. Isso significa que ser mentiroso é inato aos humanos. E, em linha com outras tendências evolucionárias, nosso talento para dissimulação supera o de nossos parentes mais próximos em várias ordens de grandeza.


A coreografia complexa do jogo social permanece central em nossa vida hoje. Aqueles que melhor enganam continuam a acumular vantagens negadas a seus pares mais honestos ou menos competentes. A mentira nos ajuda a facilitar interações sociais, manipular os outros e fazer amigos. Existe até uma correlação entre popularidade social e habilidade de enganar. Falsificamos nossos currículos para conseguir emprego, plagiamos trabalhos para melhorar nossas médias escolares e iludimos potenciais parceiros sexuais para seduzi-los à cama. Pesquisas mostram que os mentirosos conseguem com mais freqüência obter emprego e atrair pessoas do sexo oposto para relacionamento. Vários anos depois Feldman demonstrou que os adolescentes mais populares na escola são também os melhores a enganar seus pares. Mentir continua a funcionar. Embora arriscado mentir o tempo todo (lembre-se do destino do menino que gritou: "Lobo!"), mentir freqüentemente e bem continua um passaporte para o sucesso social, profissional e econômico.

Enganando a nós mesmos
Ironicamente, a principal razão de sermos tão bons para mentir aos outros é que somos bons para mentir a nós mesmos. Há uma estranha assimetria em como partilhamos a desonestidade. Embora estejamos sempre prontos para acusar os outros de nos enganar, somos incrivelmente distraídos com nossa própria duplicidade. Experiências de termos sido vítimas de falsidade são gravadas indelevelmente em nossa memória, mas nossas próprias prevaricações escapam tão facilmente de nossa boca que geralmente nem nos damos conta delas.

O estranho fenômeno do auto-engano é objeto da perplexidade de filósofos e psicólogos há mais de 2 mil anos. A idéia de que uma pessoa possa iludir a si mesma parece tão sem sentido quanto trapacear no jogo de paciência ou roubar dinheiro da própria conta bancária. Mas o caráter paradoxal do auto-engano deriva da idéia, formalizada pelo filósofo francês René Descartes no século XVII, de que a mente humana é transparente para o próprio indivíduo e que a introspeção permite um entendimento preciso de nossa vida mental. Por mais natural que essa perspectiva seja para a maioria de nós, ela se revela profundamente equivocada.

David Livingstone Smith é diretor fundador do New England Institute for Cognitive Science and Evolutionary Psychology e autor do livro Why we lie: the evolutionary roots of deception and the unconscious mind (St. Martin\\'s Press, 2004).
Fonte: http://www2.uol.com.br/vivermente/reportagens/mentirosos_inatos_4.html

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