segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Tiririca e a "Florentina Eleitoral Paulista"


Nas revistas: "Foi uma traição", diz Erenice
Fonte: Congresso em Foco

Istoé
"Meus filhos vão ter que viver todos à minha custa?"
Na quinta-feira 16, a equipe de ISTOÉ tinha encontro marcado com a ministra Erenice Guerra às oito horas da manhã, na residência oficial da Casa Civil. Mas, depois de uma rápida visita do ministro Franklin Martins, ela foi convocada às pressas pelo presidente Lula. Erenice pediu que a reportagem aguardasse até o meio-dia, pois iria ao Palácio do Planalto para entregar seu pedido de demissão. Assim que deixou o cargo, voltou à luxuosa casa na Península dos Ministros e ali deu uma entrevista exclusiva à ISTOÉ sobre seus últimos momentos no governo Lula.
ISTOÉ – O que mais pesou em sua decisão de pedir exoneração?
Erenice Guerra – Fundamentalmente, foi a campanha de desconstrução da minha imagem, sórdida e implacável, atingindo, sobretudo, a minha família. Esses valores colocados em questão são caros para mim. Sou uma pessoa de origem simples e a família é o núcleo central que estabiliza a gente. Nesse episódio, não escaparam filhos, filha, marido, irmãos. Quando eu percebi que não haveria limite nenhum, nem ético nem de profissionalismo, para essa campanha difamatória, entendi que era o momento de fazer uma opção.

ISTOÉ – A sra. chegou a se encontrar com um representante da EDRB do Brasil, que teria tentado obter empréstimo no BNDES com a ajuda de seu filho?
Erenice – Eu nunca recebi. Ele foi recebido na Casa Civil pelo meu assessor, o chefe de gabinete à época. Foi lá apenas para fazer a demonstração de um projeto de energia alternativa. É tudo o que eu sei sobre esse assunto. Mas efetivamente a Casa Civil está investigando a conduta do ex-servidor Vinícius Castro e a possibilidade de ele ter praticado algum tráfico de influência nesse caso.
ISTOÉ – Esse servidor poderia se passar por um funcionário capaz de influir nas suas decisões?
Erenice – É. Poderia dizer “trabalho na Casa Civil, posso conseguir isso e aquilo...” Isso não é desarrazoado não. E, exatamente por isso, a Casa Civil está, a partir de hoje, investigando esse caso com bastante rigor.
ISTOÉ – Significou uma traição à sra.? Afinal, Vinícius era um funcionário muito próximo, além de ser sócio de seu filho.
Erenice – Foi uma traição. Uma completa traição.

Leia a íntegra da entrevista aqui

O governo limpa a área
"Se eu sair, eu vou te pre­judicar? Então, eu saio. Não aguento mais”, anun­ciou a ministra da Casa Civil, Erenice Guerra, em conversa telefônica com a candidata do PT ao Planalto, Dilma Rousseff. Horas depois, ainda na manhã da quinta-feira 16, Erenice entregava sua carta de exoneração ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Era o desfecho de um enredo repleto de contradições que vinha colocando um dos cargos mais importantes da República no centro de uma crise política. Alvo de uma enxurrada de denúncias, Erenice não resistiu.
A demissão da ministra foi uma solução combinada com Lula. O presidente vinha monitorando de perto o caso desde a primeira denúncia, em que o filho de Erenice, Israel Guerra, foi acusado de prestar consultoria para uma empresa, a Master Top Linhas Aéreas (MTA), vencedora de uma concorrência milionária nos Correios. Num encontro na noite do domingo 12 com Erenice no Palácio da Alvorada, Lula recomendou que as respostas da ministra tinham de ser “rápidas e esclarecedoras” e que ela teria oportunidade de se defender.

Sem sinal de diplomacia
A vida diplomática é afamada pelo luxo e pela ostentação. Mas todo este glamour pode servir também para escamotear comezinhos pecados. Exploração de mão de obra, por exemplo. Eis aí uma típica mesquinharia que parece não combinar com os princípios da diplomacia. No entanto, é exatamente isso que vem ocorrendo por aqui. Várias embaixadas e consulados instalados no país têm negado a seus funcionários brasileiros direitos trabalhistas básicos. Empregados de representações estrangeiras são submetidos a situações constrangedoras, que, não raro, deságuam no assédio moral, sexual e até mesmo em regimes que poderiam ser considerados análogos à escravidão. Os casos de processos trabalhistas contra embaixadas e consulados estrangeiros no Brasil acumulam-se na Justiça há anos. A estimativa é de que cerca de 1,5 mil deles estejam em tramitação nesse momento.
Reclamações trabalhistas como essas são cada vez mais comuns. O aperto fiscal de muitos países fez com que representações diplomáticas acabassem sendo obrigadas a reduzir gastos. Muitas estão aproveitando a imunidade diplomática a que têm direito para desrespeitar as complexas leis trabalhistas brasileiras. Para completar o quadro, o Itamaraty prefere não atuar de forma mais incisiva para evitar constrangimentos. A chancelaria brasileira apenas orienta as embaixadas a “observarem as leis trabalhistas do País e os trabalhadores a procurarem a Justiça”, informa a assessoria de imprensa do ministério. “Essas embaixadas querem se livrar do problema, não estão preocupadas em cumprir a lei”, diz o presidente do Sindicato Nacional dos Trabalhadores em Embaixadas, Consulados, Organismos Internacionais (Sindnações), Raimundo de Oliveira.

Palhaço em tempo integral
O palhaço da foto ao lado não tira a peruca de jeito nenhum. Candidato do Partido da República (PR) a deputado federal por São Paulo, o sujeito, que atende pelo apelido de Tiririca, recusou-se a atender a reportagem de ISTOÉ na condição de Francisco Everardo Oliveira Silva, seu nome de batismo. Alegou falta de tempo, mas a verdade é que, na reta final de campanha, não quer correr o risco de expor o seu verdadeiro eu. Segundo o Ibope, Tiririca deve amealhar um milhão de votos, o que vai transformá-lo num dos maiores fenômenos eleitorais da história do Brasil. Personagem criado pelo cearense Francisco, Tiririca fez certo sucesso em um programa humorístico da tevê e vendeu milhares de cópias de um CD graças à música burlesca “Florentina”. Por que resolveu ser candidato? “Minha mãe disse que era uma boa.”

A arte de não se eleger
A continuidade tem tu­do para ser a marca des­tas eleições, independentemente de partidos. Dos 20 governadores candidatos à reeleição, 15 apareceram nas pesquisas como líderes da disputa. A exceção mais gritante ao desejo do eleitor de manter o governante é o Rio Grande do Sul, onde a governadora Yeda Crusius (PSDB) convive com um índice de rejeição superior a 40%. Eleita em 2006, Yeda assumiu o Palácio Piratini pregando “um novo jeito de governar” após mais de uma década de alternância do poder entre o PT e o PMDB. Na prática, passou a maior parte do tempo defendendo-se da sucessão de denúncias que estremeceram seu governo.

Época
Na reta final, o fator Erenice
Na mesma semana em que o candidato do PSDB à Presidência, José Serra, teve a confirmação de que o caso das quebras ilegais de sigilo fiscal dentro da Receita não seria suficiente para levá-lo ao segundo turno, um novo escândalo atingiu a campanha de sua principal adversária, a candidata do PT e ex-ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. Novamente, a oposição ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a vislumbrar uma chance de arrastar a disputa para além de 3 de outubro.
Dentro do governo e também dos partidos de oposição, tornou-se consenso que, se os episódios das quebras de sigilo eram complicados demais para a compreensão do eleitor, a acusação de tráfico de influência pode ser mais facilmente traduzida para a linguagem das campanhas de rádio e televisão. Além disso, as novas denúncias incluem supostas contribuições para o caixa da campanha de Dilma, enquanto o envolvimento de líderes e da candidata do PT nas ilegalidades praticadas na Receita não foi comprovado, contrariando as acusações de Serra. Na semana passada, a funcionária do Serpro Adeildda dos Santos afirmou à Polícia Federal que acessou indevidamente os dados fiscais de Eduardo Jorge Pereira e de outros tucanos na agência da Receita em Mauá, Grande São Paulo, mediante propina.

Ele reinventou a tradição
“A senhora vai esquecer a santa, mãe?” Essa foi a pergunta de Maria Aparecida Marques, filha de Tereza Santina do Carmo, quando viu a mãe de 67 anos se desgarrar de uma procissão religiosa para seguir o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), que está em campanha pela reeleição. Distribuindo beijos e abraços, Campos guiou a primeira metade da procissão em homenagem a Frei Damião, no município de São Joaquim do Monte, interior do Estado. Ao passar por uma estrada, o governador saiu em direção a seu carro, o que gerou uma pequena confusão. Muitos não sabiam se deveriam seguir o político ou a procissão. Tereza ignorou a filha, driblou os seguranças e bateu no vidro do carro do governador. Campos abriu a porta e pegou sua mão. “Eu rezo todo dia por vocês”, disse Tereza, entre lágrimas e soluços. “Que Deus abençoe você e doutor Arraes.”

Quanto vale a natureza?
Não é nenhuma novidade que a natureza é a base da economia. Sempre foi – até porque não há vida fora da natureza. Mas a abundância de recursos era tamanha que eles podiam ser considerados inesgotáveis, e portanto gratuitos. Em alguns casos, essa premissa se revelou ilusória, como na civilização da Ilha de Páscoa, no Pacífico, que ruiu quando a madeira acabou. Há um temor similar para alguns recursos de nossa civilização, como o petróleo, os peixes e até a água potável.
O grande desafio é encontrar fórmulas para que quem explora os recursos naturais ajude a pagar a conta de sua manutenção, diz o economista americano Robert Costanza, da Universidade de Portland. É algo que alguns economistas visionários pregam há décadas. O professor americano Herman Daly é um dos pais dessa economia ecológica. Colocou o desenvolvimento sustentável em pauta nos anos 80 quando foi economista sênior do Banco Mundial. Hoje, como professor da Universidade de Maryland, diz acreditar que o crescimento da população demanda uma mudança na teoria econômica. Daly questiona o conceito do Produto Interno Bruto (PIB), que inclui apenas as riquezas materiais geradas. Acha que é necessário descontar desses ganhos os gastos com a poluição do ar, os resíduos, a destruição da floresta.

Carta Capital
Aécio deixará o PSDB
Não é por estar envolvido de corpo e alma na campanha para eleger seu substituto, Antonio Anastasia, ao governo de Minas Gerais, e muito menos por distração política, que Aécio Neves deixou de se manifestar sobre as recentes denúncias, encampadas por José Serra, para tentar desestabilizar Dilma Rousseff. É um silêncio significativo. Expressivo como um risco de giz. A metáfora, possível de ser imaginada, que separa o território de atuação da oposição mineira e da oposição paulista. Ambas adversárias do governo Lula. Só que a primeira é democrática e a segunda é golpista. As duas convivem, no PSDB, por um tempo longo demais, considerando as divergências políticas que emergiram mais claramente quando os paulistas cortaram as asas de Aécio pretendente à candidatura à Presidência pelo partido. Foi a gota d’água para um tucano disposto a voar. José Serra, ainda governador, bloqueou as prévias internas que Aécio propunha e forçou o mineiro a abrir espaço para mais uma candidatura paulista. Aos 68 anos, Serra não tem mais tempo para esperar, porque, conforme anunciou no palanque que a revista Veja lhe ofereceu, preparou-se a vida inteira para ser presidente. E, tudo indica, fracassou. Há duas semanas, em jantar no Rio de Janeiro, o ex-governador Aécio Neves empolgou-se ao falar da necessidade de reformas políticas no Brasil e, para sustentar os argumentos que desenvolvia junto a um grupo restrito de amigos, ele anunciou: “Eu vou sair do PSDB”, na casa de um empresário, em Copacabana, cercado de convidados importantes.

Leia ainda: Aécio nega que vá deixar PSDB

Espanto e pavor. Em Marte

Estão na ribalta um candidato a Mussolini, ou a Hitler, ou a ambos, e uma assassina de criancinhas. Ou seja, Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. Palavras de Fernando Henrique Cardoso, Rodrigo Maia e Mônica Serra. Um alienígena que baixasse à Terra ficaria entre o espanto e o pavor. Quanto a nós, brasileiros, não é o caso de maiores preocupações. No caso de Lula, cujo estilo mussoliniano o príncipe dos sociólogos aponta, vale admitir que outra citação possível seria a de Luís XIV, personificava o poder todo. “O Estado sou eu”, dizia o monarca por direito divino. Pois segundo FHC, o presidente afirma, nas entrelinhas da sua atuação, “eu sou tudo e quero o poder total”. E isto “não pode”, proclama o ex, com aquela riqueza vocabular que o caracteriza.

Os jornalistas tucanos, por Marcos Coimbra
Quando, no futuro, for escrita a crônica das eleições de 2010, procurando entender o desfecho que hoje parece mais provável, um capítulo terá de ser dedicado ao papel que nelas tiveram os jornalistas tucanos. Foram muitas as causas que concorreram para provocar o resultado destas eleições. Algumas são internas aos partidos oposicionistas, suas lideranças, seu estilo de fazer política. É bem possível que se saíssem melhor se tivessem se renovado, mudado de comportamento. Se tivessem permitido que novos quadros assumissem o lugar dos antigos.

A próxima geração
Após um longo período sem renovação, a fornada de políticos que sairá das urnas em 2010 consolida a influência que a geração pós-1964 terá na vida brasileira. Na casa dos 50 anos ou menos, não viveram diretamente as agruras da ditadura. São, em geral, conciliadores e demonstram enorme capacidade de estabelecer apoios quase unânimes. Nos estados, estão desacostumados a enfrentar oposições tinhosas. São ao menos quatro, todos com inigualáveis chances de ser eleitos ou reeleitos no primeiro turno ou de emplacar afilhados em governados estaduais. Entre os reeleitos certos, Eduardo Campos, de Pernambuco, e Sérgio Cabral Filho, do Rio de Janeiro. Na lista dos padrinhos, Aécio Neves, que luta para entronizar Antonio Anastasia em Minas Gerais, e Paulo Hartung, que transferiu toda a sua popularidade a Renato Casagrande do PSB. Casagrande deve ser eleito governador do Espírito Santo no primeiro turno com quase 70% dos votos válidos.

Os filhos de Erenice
A ministra-chefe da Casa Civil, Erenice Guerra, resistiu por cinco dias às denúncias. Na quinta-feira 16, uma reportagem da Folha de S.Paulo a envolver seu filho Israel em mais um enredo de tráfico de influência representou o tiro de misericórdia. Após uma reunião no Palácio do Planalto, a ministra redigiu uma  nota, lida pelo porta-voz da Presidência da República, Marcelo Baumbach, na  qual anuncia sua saída do governo, se declara vítima de uma “campanha de  desqualificação” e reclama de “toda sorte de afirmações, ilações e mentiras”. Ainda que a ministra demissionária, o governo, o PT e a campanha de Dilma Rousseff ressaltem o caráter eleitoral da avidez da mídia na cobertura do caso e rejeitem a tentativa de ligar as denúncias à candidatura petista à Presidência, a situação de Erenice Guerra ficou insustentável ante a profusão de indícios de que Israel e seu irmão Saulo conduziam sem pudor atividades de lobby e tráfico de influência – e usavam com desenvoltura o nome da mãe para tentar auferir lucros.
Veja
'Caraca! Que dinheiro é esse?'
Numa manhã de julho do ano passado, o jovem advogado Vinícius de Oliveira Castro chegou à Presidência da República para mais um dia de trabalho. Entrou em sua sala, onde despachava a poucos metros do gabinete da então ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, e de sua principal assessora, Erenice Guerra Vinícius se sentou, acomodou sua pasta preta em cima da mesa e abriu a gaveta.
O advogado tomou um susto: havia ali um envelope pardo. Dentro, 200 mil reais em dinheiro vivo – um “presentinho” da turma responsável pela usina de corrupção que operava no coração do governo Lula.
Vinícius, que flanava na Agência Nacional de Aviação Civil, a Anac, começara a dar expediente na Casa Civil semanas antes, apadrinhado por Erenice Guerra e o filho-lobista dela, Israel Guerra, de quem logo virou compadre.
Apavorado com o pacotaço de propina, o assessor neófito, coitado, resolveu interpelar um colega: “Caraca! Que dinheiro é esse? Isso aqui é meu mesmo?”. O colega tratou de tranquilizá-lo: “É a ‘PP’ do Tamiflu, é a sua cota. Chegou para todo mundo”.
PP, no caso, era um recado – falado em português, mas dito em cifrão. Trata-se da sigla para os pagamentos oficiais do governo. Consta de qualquer despacho público envolvendo contratos ou ordens bancárias. Adaptada ao linguajar da cleptocracia, significa propina. Tamiflu, por sua vez, é o nome do remédio usado para tratar pacientes com a gripe H1N1, conhecida popularmente como gripe suína.

A mais nova edição da revista ainda não está disponível na internet.

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