quinta-feira, 24 de março de 2011

Outra Primavera: Filosofias de botequim I: Benção pro amor

Dizem por aí que Deus fez o homem por amor. Antes de destruir tudo, a ideia era que ele cuidasse do mundo. Mas, o coitado andava por aí sozinho e cabisbaixo esquecendo do trabalho, aí Deus achou por bem lhe dar uma companheira.

O final a gente já sabe: os dois encontraram uma maçã, dormiram juntos e acabaram com o paraíso.

Desde então, o amor pede calma, muita calma. Se não der certo da primeira vez, junta os cacos e procura o amanhã.Porque a verdade é que a vida é muito melhor para quem ama.

Se pinta, se perfuma, abre as portas de casa e vai à luta. Que onde come um, cá entre nós, é bem mais gostoso quando comem dois.

No fundo, no fundo, todo mundo é “eu sozinho” rezando para ser “Nós juntinhos”.

Que o amor não nos congele com os seus olhos de medusa.
E fique claro: é preciso abrir mão de si mesmo pra entrar no outro. Desapegar dos erros, dividir os espaços, consertar os defeitos arduamente cultivados. Não é para qualquer um.

Como diz o funk, pra ser feliz no amor tem que ter disposição.

E aos que acham que amar não é pra eles, ou que o amor já passou, isso é história pra boi dormir.Vivem na memória machucados antigos, se privam de canções e poesias. Bebem o amor de ontem e acordam todos os dias com ressaca de passado.

Arredias, algumas pessoas vivem assim: de dia implodem o peito, e de noite, no íntimo, rezam para serem merecedoras de amor no amanhã.

Não sabem que o amor é irrequieto, passional, machista e feminista.
Dá um tapa na cara do homem e da mulher que o encara e pede tudo: o samba mais bonito, o choro mais sofrido. A alma de quem tem pra dar.

Não existe certeza. Achar o amor pode levar todo o tempo do mundo, uma vida inteira de desafetos, bailes de carnaval, encontros às cegas, beijos banais, horas de chat no par perfeito, rugas de tentativas e para alguns at’e os cabelos.

Mas, o que importa? Se quando duas vidas de juntam é capaz de mudar tudo.

Que alma é tão pequena que o seu feijão com arroz não mereça vontade de viver?

Que buraco negro cotidiano não quer ser domingo de sol?

Quando um amor verdadeiro passa é como se só dois pudessem mudar o mundo. São duas partes rumo ao tudo.

Novelas à parte, a verdade é que o amor dá trabalho. É preciso se reinventar, costurar histórias, misturar mal-passados com esperanças de futuro. E quando vem ao ponto, dá casamento.

Aos amantes arredios e aos incorrigíveis, com a benção do Chico, o amor avisa:

Não se atire do terraço, não arranque a minha cabeça da sua cortiça, não beba muita cachaça e não se esqueça de mim.

Nem lenda, nem crença, nem promessa.

O divino está em quem tem sede no coração, luz nos olhos e coragem para o amor quantas vezes for preciso. Iluminados sejam todos vocês e abençoados de amor até que a vida os separe.

*Texto lido no casamento de Guilherme Laux e Solange.
Fonte: http://www.outraprimavera.blogspot.com/

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